Sexo, chimpanzés e bonobos

Genética revela história recente dos nossos parentes vivos mais próximos.

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Chimpanzé macho no Parque Nacional de Kibale, Uganda Kevin Langergraber

Depois de uma meticulosa comparação genética entre os nossos primos actuais mais próximos – os chimpanzés e os bonobos –, uma equipa de cientistas descobriu que, tal aconteceu entre nós e os Neandertais, também aquelas duas espécies de grandes símios fizeram sexo.

A análise dos genomas completos de 65 chimpanzés e dez bonobos, de dez países africanos, concluiu que houve dois episódios de cruzamento sexual entre os chimpanzés e os bonobos – um há cerca de 500.000 anos e outro há 200.000 anos.

Estas duas espécies, que têm comportamentos distintos apesar de semelhanças na aparência, separaram-se de um antepassado comum há cerca de 1,5 a dois milhões de anos, concluiu ainda o estudo.

Os cientistas pensavam que o cruzamento entre chimpanzés (Pan troglodytes) e bonobos (Pan paniscus) teria sido pouco provável, por causa do rio Congo, um dos maiores do mundo, que separa fisicamente a área de distribuição geográfica de cada uma das espécies.

Afinal, o cruzamento entre elas teve um impacto genético duradouro em duas das subespécies de chimpanzés, a Pan troglodytes troglodytes e a Pan troglodytes schweinfurthii, pois cerca de 1% dos seus genomas é oriundo dos bonobos. Portanto, os chimpanzés da África Central e de Leste, da Nigéria e dos Camarões partilham mais informação genética com os bonobos do que os seus “congéneres” de África ocidental. (Há mais duas subespécies de chimpanzés, a Pan troglodytes verus e a Pan troglodytes ellioti).

“É importante estudar os nossos parentes vivos mais próximos, uma vez que nos dão informações valiosas e permitem fazer uma comparação paralela com a evolução da nossa própria espécie”, diz Christina Hvilsom, investigadora do Jardim Zoológico de Copenhaga (Dinamarca), envolvida no estudo publicado na última edição da revista Science.

A linhagem evolutiva humana separou-se da dos chimpanzés há cerca de cinco a sete milhões de anos.

Os resultados revelaram um cenário semelhante ao ocorrido entre a nossa espécie e os Neandertais há dezenas de milhares de anos e que, entretanto, a genética já pôde desvendar, acrescentou Tomas Marques-Bonet, da Instituição Catalã para a Investigação e Estudos Avançados e do Instituto de Biologia Evolutiva, em Espanha.

Durante muito tempo, especulou-se o que teria acontecido entre nós (os humanos modernos, que surgimos há cerca de 200.000 anos, em África) e os Neandertais (outro tipo de humanos que surgiu há cerca de 300.000 anos e viveu apenas na Europa e no Médio Oriente). Desde a descoberta dos primeiros ossos dos Neandertais em 1856, na Alemanha, que existia esta disputa científica: o homem de Neandertal ter-se-á ou não reproduzido connosco e, se sim, teremos herdado alguma coisa dele?

A questão ficou resolvida quando, finalmente, em 2010, se conseguiu sequenciar o genoma dos Neandertais: em várias populações humanas actuais não africanas encontrou-se 1,5 a 4% de ADN dos Neandertais.

O estudo mostra ainda a genética pode ser usada para determinar a origem de um chimpanzé na natureza, sendo assim uma potencial ferramenta para a conservação da natureza, disse Tomas Marques-Bonet. Poderá assim indicar-se o país ou até mesmo a região de onde é oriundo.

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Bonobos fêmeas em Wamba na República Democrátrica do Congo Nahoko Tokuyama

Os chimpanzés vivem em 22 países da África equatorial. Mas os bonobos encontram-se apenas na República Democrática do Congo, a sul do rio Congo. São um pouco mais pequenos, mais esguios e escuros do que os chimpanzés. E os seus grupos são dominados pelas fêmeas, formando fortes ligações sociais contra os machos através de contactos sociais e sexuais entre o mesmo sexo e que se pensa limitarem a agressão. Ao contrário dos chimpanzés, tendem a não ser agressivos de forma letal com outros bonobos.

Já os chimpanzés são dominados pelos machos. Agressões intensas entre grupos diferentes podem ser mortíferas, matando mesmo crias de outros grupos. Usam abundantemente ferramentas em comparação com os bonobos e também cooperam para caçar pequenos macacos.  

Ambos, chimpanzés e bonobos, que nos mostram duas facetas de nós próprios, estão em risco de extinção.

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