O 3D vai salvar o kung fu (e talvez os dias de chuva)

Os mestres chineses estão a colaborar com um projecto que promete impedir as artes marciais tradicionais de caírem no esquecimento.

Hong Kong Martial Arts Living Archive

O Dragão Ataca, Os Jovens Heróis de Shaolin, Era Uma Vez na China, Dragon Ball, O Tigre e o Dragão, O Panda do Kung Fu, O Grande Mestre. Os títulos reconhecíveis são muitos e a convivência regular com o kung fu na cultura popular pode estar a encandear-nos. Apesar do cinema, da televisão e até do ensino nas escolas na China, a realidade é inquietante.

O número de aprendizes está a diminuir e os velhos mestres chineses estão preocupados que o kung fu, essencialmente ensinado de forma oral e com recurso a ilustração, pereça com a sua geração. Os jovens interessam-se hoje por actividades que não exigem o nível de empenho necessário para aprender os movimentos milenares de velocidade, torque, torção e força.

A Associação Internacional de Artes Marciais está a desenvolver com a Universidade de Hong Kong – onde os grandes mestres se refugiaram no século XX, para escapar ao regime maoísta – o primeiro “arquivo vivo” dos diversos estilos de kung fu, através de tecnologia 3D, câmaras panorâmicas e estereoscópicas de alta-definição e alta-velocidade, fotografias e áudio.

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As ilustrações são usadas no ensino tradicional (sobretudo oral) do kung fu DR

O registo começou em 2013. Um ano depois, foi preciso recorrer ao crowdfunding, mas o objectivo dos 31 mil dólares foi alcançado em 2015 e o projecto continua. O nível de detalhe com que está a ser feito – essencial para captar os movimentos refinados do kung fu – permitirá fazer exposições, apps e guias de todos os formatos para assegurar o futuro destas artes marciais.

Esta semana foi prolífera em novidades relacionadas com o 3D: a Microsoft revelou que o vai incorporar no seu novo sistema operativo, o Windows 10 Creators Update, e os ABBA anunciaram uma “experiência ao vivo e virtual” para 2018 – parecendo, à partida, mais um regresso holográfico como os de Elvis Presley (2007), Tupac (2012) e Michael Jackson (2014).

O que impõe agora uma pergunta: se um dia tudo isto se fundir, poderemos deixar os óculos de realidade virtual na gaveta, ligar o computador e aprender os rudimentos do kung fu com um mestre chinês enquanto chove lá fora?

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