Corrida contra o enfado

A nova adaptação de um best-seller de Dan Brown é um thriller em piloto automático, sem alma nem chama.

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Inferno só não leva a bola preta porque, enfim, há Florença e Veneza
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Nos primeiros 15 minutos de Inferno, ergue-se alguma esperança: pelo meio de uma série de visões apocalípticas alucinadas por Tom Hanks numa câmara de hospital, há sugestões que a nova aventura do académico Robert Langdon criado pelo romancista Dan Brown pode cair para o lado do filme de terror.

É, como quase tudo no resto do filme de Ron Howard, uma ilusão, uma falsa pista: não é preciso muito para Inferno entrar no molde do thriller de aeroporto e da corrida contra o tempo (aqui centrada em Florença e Veneza e tendo como objectivo a descoberta de um vírus que pode provocar uma pandemia global).

Ainda é preciso menos tempo para se adivinhar as voltas e reviravoltas da trama, e para perceber que Inferno não tem alma, não tem chama, não tem garra, não tem a leveza, a desenvoltura ou a energia de que um filme deste género precisa para funcionar. Tudo aqui – a começar por um Hanks que ainda agora vimos tão bem no Milagre no Rio Hudson de Eastwood – está literalmente em piloto automático, com Howard completamente ausente, no papel de mero supervisor que garante que os ingredientes entram todos quando devem e que o resultado final cumpre os mínimos olímpicos.

Inferno só não leva a bola preta porque, enfim, há Florença e Veneza e o filme não se coíbe de fazer valer a beleza e a história dessas cidades - e porque há o grande Irrfan Khan, único actor que percebeu o filme em que está e sabe piscar os olhos ao espectador, como quem diz “isto é só um filme e estamos aqui para nos divertirmos”. A sua presença descontraída e prazenteira apenas sublinha ainda mais como Inferno é tudo menos divertido e desenvolto, mas antes enfadonho e maçador.

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