Autarca da Frente Nacional lança campanha publicitária contra 40 migrantes

A Câmara de Béziers montou uma série de cartazes nas ruas contra a ampliação de um centro de acolhimento.

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Robert Ménard, presidente da câmara de Béziers AFP/SYLVAIN THOMAS

Poderia ser um cartaz a anunciar mais um blockbuster de um filme de terror. “Aí está, eles estão a chegar…” lê-se em vários outdoors espalhados por Béziers. Mas não são vampiros ou mortos-vivos os que vêm assombrar aquela pequena cidade no sul de França. “Os migrantes no centro da nossa cidade!”, completa a mensagem, com uma fotomontagem de um grupo de homens de cor de pele escura, tendo como fundo a catedral da cidade sob um céu cinzento e ameaçador.

Os cartazes fazem parte da campanha lançada pela autarquia de Béziers, liderada por Robert Ménard, eleito com o apoio do partido de extrema-direita Frente Nacional. O objectivo é denunciar a abertura de um novo centro de acolhimento para requerentes de asilo na cidade. Num comunicado publicado na semana passada, Ménard criticava “o incrível desprezo do Estado” pelos habitantes de Béziers.

“Mais uma vez, os biterrois são chamados a pagar o preço de uma política que consiste em abrir, à grande, as portas do nosso país a uma verdadeira imigração colonizadora”, defende Ménard, fundador da associação Repórteres Sem Fronteiras.

Os cartazes que Ménard mandou espalhar nos dias seguintes pela cidade não anunciam um filme, mas a sua justificação está cheia de ficções. Na verdade, não se trata da abertura de um novo centro, mas sim o alargamento das instalações já existentes. Dos actuais 50 lugares disponíveis, o centro poderá passar a receber 90 pessoas, explica o jornal Midi Libre. A “colonização” temida pelo autarca traduz-se, então, num acréscimo de 40 migrantes, numa cidade de 70 mil habitantes.

À campanha publicitária, a autarquia quer juntar um referendo sobre o acolhimento de refugiados. De acordo com a edição francesa do Huffington Post, Ménard pretende apresentar uma proposta durante a próxima reunião do conselho municipal que inclui uma consulta popular. O referendo será marcado para 8 de Janeiro e a pergunta será a seguinte: “É a favor da instalação de novos migrantes, imposta pelo Estado, sem consultar o conselho municipal?”

O mais certo é a proposta esbarrar nos tribunais, uma vez que o alojamento a pessoas em estado de necessidade é da competência do Estado central, e não das autarquias. Foi essa a deliberação do Tribunal Administrativo de Grenoble, no final de Setembro, em relação à proposta da autarquia de Allex, que queria referendar a abertura de um centro de acolhimento destinado a 50 migrantes.

A aparente impossibilidade jurídica não deve, porém, demover Ménard. Desde que está à frente da autarquia de Béziers que o seu gabinete não tem cessado de dar origem às propostas mais polémicas. Tentou impor um recolher obrigatório para os menores de 13 anos, mudou o nome de uma rua para prestar homenagem a um militar defensor da Argélia francesa e quis criar uma “guarda biterroise”, que mais não era do que uma milícia armada – uma proposta que também foi derrotada nos tribunais. Foi ainda o ex-jornalista que reacendeu a controvérsia em torno das estatísticas étnicas, quando tentou contabilizar o número de filhos de imigrantes nas escolas da cidade.

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