Para Ingrid Betancourt, as FARC também mereciam

“Escute… Sim. É muito duro para mim dizer isto, mas creio que sim”, respondeu a ex-refém quando lhe perguntaram se os que a raptaram deviam partilhar o Nobel da Paz com o Presidente Santos.

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Numa passagem por Lisboa, em 2011 Nuno Ferreira Santos

É a mais conhecida entre todos os que ao longo de mais de 50 anos foram reféns das FARC na Colômbia. Ingrid Betancourt esteve sequestrada de 2002 a 2008. “As pessoas que a raptaram também mereciam o Nobel da Paz?”, perguntou-lhe ao telefone um jornalista do canal francês I-Télé. “Escute… Sim. É muito duro para mim dizer isto, mas creio que sim”, respondeu comovida.

O Nobel da Paz para o Presidente colombiano, Juan Manuel Santos, premeia os seus esforços “para pôr fim à guerra civil de mais de 50 anos que provocou a deslocação forçada de perto de seis milhões de pessoas”, prestando igualmente homenagem “aos próximos das inumeráveis vítimas”. Notando o chumbo do acordo de paz em referendo, há menos de uma semana, o Comité Nobel considera que isso “torna ainda mais importante que as partes, dirigidas pelo Presidente Santos e pelo líder da guerrilha Rodrigo Londoño continuem a respeitar o cessar-fogo”.

Londoño, mais conhecido por Timochenko, disse sempre que respeitaria a trégua e continua a querer a paz. Aliás, apressou-se a felicitar Santos mas disse que o Prémio Nobel não é o mais importante. “O único prémio a que aspiramos é a paz com justiça social para uma Colômbia sem para-militarismo, sem retaliações nem mentiras”, escreveu na sua conta de Twitter o comandante dos rebeldes marxistas.

As comparações são sempre difíceis mas todos notaram que o Nobel foi atribuído a Santos e não a Timochenko, quando ambos assinaram o acordo de paz, o mês passado. O caso mais semelhante será o de Yasser Arafat, premiado em 1994 em conjunto com os israelitas Yitzhak Rabin e Shimon Peres. Espera-se que na Colômbia a paz já não fuja, enquanto entre palestinianos e israelitas o conflito parece bem longe do fim. Os argumentos para excluir Timochenko – a necessidade de não irritar os colombianos que já vêem o acordo como demasiado complacente para um grupo por trás de décadas de atentados e raptos – aplicam-se a quase qualquer conflito.

Uma alternativa defendida por alguns comentadores para evitar premiar os responsáveis por um acordo que uma curta maioria acaba de rejeitar nas urnas seria atribuir o Nobel às associações de vítimas, o que equivaleria a pressionar para a resolução do conflito de uma forma menos polémica.

“Estou muito, muito, muito feliz”, disse ainda a ex-senadora e activista Ingrid Betancourt. Juan Manuel Santos “merece” o Prémio. O actual Presidente, defende a franco-colombiana, “lutou quase sozinho para obter este resultado, mudou a história do país, deu  à nova geração a possibilidade de conhecer um país diferente” daquele em que ela viveu. “Acredito não só que merece mas que este é também um momento de reflexão para a Colômbia, de esperança de paz, de alegria para se dizer efectivamente que a paz não tem recuo.”

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