Não fossem os actores e Um Editor de Génios não teria grande interesse

Michael Grandage é o mais recente encenador britânico a dar o salto para o grande écrã, mas não fossem os seus actores e Um Editor de Génios não teria grande interesse.

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Michael Grandage é o mais recente nome grande dos palcos britânicos a dar o salto para o cinema e a seguir nas pegadas de gente como Stephen Daldry, Nicholas Hytner ou Sam Mendes – e a fazê-lo com um daqueles filmes de prestígio de impecável factura técnica (profissionalismo britânico oblige) que parecem apontados directamente aos espectadores de meia-idade que compõem o grosso dos votantes da Academia de Hollywood. Não faltam sinais em Um Editor de Génios dessa inscrição no “isco para os Óscares”: uma história inspirada num caso real, no caso a amizade que, na década de 1930, uniu o escritor americano Thomas Wolfe ao seu editor na Scribners, Max Perkins; um elenco de actores reconhecidos, quase todos ingleses (o único nome americano é Laura Linney no papel secundário da esposa de Perkins); um tom de filme sério e adulto de época, no qual aliás Grandage carrega a traço grosso, como a provar que aprendeu bem a lição do que um encenador de teatro deve fazer ao passar para o cinema (os ralentis a remeter para a Idade da Inocência de Scorsese, o tom almofadado e difuso da fotografia de Ben Davis).

É inegável a pontaria na escolha dos dois actores que sustentam Um Editor de Génios: Jude Law impecável como Wolfe, histrião inseguro e torrencial incapaz de parar, Colin Firth soberbo como Perkins, observador atento e silencioso cujos olhares dizem mais do que dez monólogos. São dois solistas em requintada sintonia, que se completam e carregam aos ombros um filme cuja partitura não é tão inspirada como mereceriam. Entre o excesso de um e a contenção do outro, entre a apetência de “fazer cinema” e o desejo de dar aos actores um “palco”, Grandage não encontra um equilíbrio que erga o filme acima da qualidade britânica quase-quase-televisiva. 

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