Mais de 600 anos depois, os castelos de Palmela e de São Jorge voltam a unir-se

O Projecto Almenara evoca o episódio em que D. Nuno Álvares Pereira fez passar uma mensagem a Lisboa através de uma fogueira acesa em Palmela. "Esta é já a terceira travessia do Tejo", brincou o presidente do município da margem Sul.

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No dia 17 de Setembro, os dois castelos recebem espectáculos de evocação do episódio de 1384 Paulo Ricca/Arquivo

Corria o ano de 1384 quando D. Nuno Álvares Pereira mandou acender, no Castelo de Palmela, uma grande fogueira, destinada a avisar o Mestre de Avis, que se encontrava no Castelo de São Jorge, que em breve chegariam reforços para combater o cerco dos castelhanos. O episódio serve de mote ao Projecto Almenara, que promete valorizar o património de ambos os municípios e diversificar a oferta turística da Região de Lisboa.

O projecto, que representa um investimento de cerca de 460 mil euros e conta com financiamento do Programa POR Lisboa 2020, foi apresentado esta quinta-feira, em Lisboa. Na ocasião, o presidente da Câmara de Palmela referiu-se a esta “parceria entre municípios” como uma “ponte” em construção.

“Esta é já a terceira travessia do Tejo”, brincou Álvaro Amaro, explicitando que a nova ligação entre as duas margens do Tejo tem uma especificidade que a distingue das pontes 25 de Abril e Vasco da Gama: é “uma ponte turístico-cultural”. Através dela, acrescentou o autarca, pretende-se “aumentar o fluxo turístico” na Região de Lisboa e contribuir para “o desenvolvimento da economia local”.

Já o presidente da Câmara de Lisboa recordou os tempos em que havia “uma certa concorrência” entre municípios no que ao sector turístico diz respeito e frisou com satisfação que hoje a realidade é outra. Para Fernando Medina, o futuro passa precisamente pela aposta em “ofertas complementares, que diversifiquem e aumentem o número de experiências”.

Na Área Metropolitana de Lisboa, adiantou o autarca, “há vários projectos que estão a nascer dentro desta filosofia”. Um deles é o agora apresentado Projecto Almenara, que o presidente da Câmara de Lisboa considera ter uma mais-valia que merece ser destacada: “valorizar um dos nossos principais activos, que é a nossa história”.

A primeira iniciativa do Projecto Almenara, apresentada como o seu “evento âncora”, vai ter lugar no sábado, dia 17 de Setembro. Nessa data, pelas 21h, os castelos de São Jorge e de Palmela vão ser palco de dois espectáculos de evocação do episódio ocorrido há mais de 600 anos.

Como se explica numa informação distribuída aos jornalistas, estão em causa “dois espectáculos independentes, que se interligam na sua lógica conceptual, técnica e artística, com projecções comuns visíveis nos dois municípios, através do recurso à tecnologia”. Aquele que vai poder ser visto em Palmela tem direcção artística de João Brites, do Teatro O Bando, enquanto o de Lisboa é dirigido por Jorge Gomes Ribeiro, da Companhia da Esquina.

Na apresentação desta quinta-feira, João Brites contou que o ponto de partida para o espectáculo que dirigiu foi perceber “que mensagem se queria enviar para Lisboa”. A resposta a essa pergunta, adiantou, foi a de que “até uma ovelha pode voar”, conseguindo “talvez aterrar no Castelo de São Jorge”, vinda de Palmela.

O dramaturgista, encenador e cenógrafo fala também numa “homenagem à pastorícia e aos rebanhos”, que “fazem lembrar os refugiados”, e sublinha que o espectáculo que concebeu “pretende acima de tudo enaltecer o sentido de cidadania”. No comunicado explicita-se que o “Ritual Almenara Palmela” inclui “encenações teatrais e musicais, a cargo do maestro Jorge Salgueiro” e um momento em que “serão lançadas ‘ovelhas voadoras’, representando as antigas almenaras (fogueiras)”.

Por sua vez, Jorge Gomes Ribeiro explicou que no espectáculo que se vai realizar em Lisboa procurou “confrontar um bocadinho o pensamento da guerra e da paz” e notou a importância de o episódio de 1384 continuar, “depois destes anos todos”, a ser “celebrado”. Às ovelhas, o director artístico da Companhia da Esquina acrescentou o cavalo lusitano, pela sua “coragem”.

O “Ritual Almenara Lisboa”, resume-se na informação aos jornalistas, “celebra a lusitanidade e os padrões das subculturas de Lisboa através de um espectáculo com performances teatrais e musicais, a cargo de uma orquestra de 12 elementos”.

Para lá da iniciativa agendada para o dia 17 de Setembro (que tem entrada gratuita mas que requer reserva prévia por telefone), o Projecto Almenara contempla várias outras actividades em torno dos castelos de Palmela e de Lisboa, que se uniram pela primeira vez em 1384.

Segundo detalhou a directora do Castelo de São Jorge, um dos eixos do projecto é o “Almenara Descobre”, que prevê o desenvolvimento de “uma actividade para grupos organizados” que inclua os dois monumentos e que deverá ser lançada em Outubro e repetir-se uma vez por mês. Além disso, adiantou Teresa Oliveira, pretende-se “provocar os agentes turísticos”, para que desenvolvam “produtos Almenara”, como percursos turísticos ou ofertas gastronómicas.

No comunicado fala-se, para lá desta “visita encenada, com a duração e um dia”, noutras iniciativas, como “um jogo de tabuleiro em tamanho real, uma instalação de figuras lúdicas para fotografias, uma sinalética associada ao projecto e workshops e fam trips com operadores turísticos” [visitas organizadas para que estes agentes possam familiarizar-se com os destinos].

      

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