Chicago, Bruxelas

Já vimos esta versão gangsta de Romeu e Julieta antes, e os belgas Adil el Arbi e Bilall Fallah não lhe trazem nada de novo.

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A segunda longa-metragem de Adil el Arbi e Bilall Fallah, montada e filmada como teledisco

Baz Luhrmann fez furor transplantando o Romeu e Julieta de Shakespeare para uma paisagem de criminalidade urbana moderna - é nessa linhagem que se situa esta adaptação ao cinema de romances para a juventude do escritor belga Dirk Bracke, que transfere a história para a Bruxelas contemporânea.

O Romeu de Black é um Marwan árabe e a Julieta uma Mavela africana, integrantes de gangues rivais dos subúrbios da capital belga (um dos quais o tristemente célebre bairro de Molenbeek), que se conhecem de passagem numa esquadra e dão pela sua paixão inocente presa na teia de aranha de uma criminalidade violenta e formatada.

É esse o problema central da segunda longa-metragem de Adil el Arbi e Bilall Fallah (que vê estreia simultânea em sala e nos serviços de video-on-demand): não estamos em Chicago, como alguém diz às tantas, mas Black é filmado e montado com a velocidade e o estilo que nos habituámos a ver nos telediscos ou no cinema de género americanos, como se Bruxelas não passasse de uma Chicago europeia.

Onde, por exemplo, Bando de Raparigas de Céline Sciamma fazia tangentes a este universo sem nunca perder de vista a especificidade da história e a singularidade das personagens, ou Chi-raq de Spike Lee sabia dar a volta aos códigos de género, El Arbi e Fallah comprazem-se na fórmula melodramática, executada com rigor e algum virtuosismo formal, mas sempre indecisa entre o apelo da exploitation pura e dura e a vontade de falar de coisas sérias, sem lhe trazer nenhum tipo de personalidade para lá da localização geográfica.

Incapaz de escapar à fórmula nem de marcar a diferença (um pouco como a sua própria história que parece condenar as suas personagens à partida), o esforço de Black acaba por ser inglório.

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