Alta de Coimbra vai ter estacionamento pago

Medida vai ter período experimental. Investigador duvida que alterações resolvam o problema do estacionamento naquela zona.

Estacionar em algumas ruas da Alta de Coimbra vai deixar de ser gratuito. A Câmara Municipal de Coimbra (CMC) vai instalar parcómetros em três ruas do Pólo I da Universidade de Coimbra (UC), numa medida que se insere na abertura de uma linha de transportes públicos que liga a Alta à beira-rio da cidade através do Jardim Botânico.

Na sequência de uma medida - que é "experimental”, refere a autarquia - deixar a viatura nas ruas do Arco da Traição, S. Pedro e S. João e ainda numa parte da Rua Couraça dos Apóstolos (tramo sul até ao entroncamento com a Rua S. Salvador), vai passar a ser pago.

O estacionamento a cobrar, explica o presidente da autarquia, Manuel Machado, apenas entra em vigor quando entrar também em funcionamento o mini-autocarro híbrido que vai passa fazer a nova linha. O objectivo é permitir que muitas pessoas prescindam do transporte individual nas deslocações à Alta, ou seja, “reduzir a pressão do trânsito na zona do Pólo I da UC”, afirmou o autarca na reunião do executivo municipal desta segunda-feira onde a proposta foi aprovada por unanimidade.

Com a implementação da medida, o município quer ainda “ordenar o estacionamento de forma a garantir um canal de circulação desimpedido e descongestionado para este trajecto”. Sem avançar com um prazo concreto, o autarca refere que o ideal para a entrada em funcionamento do novo circuito seria a abertura do ano escolar que se aproxima. O período experimental dos parquímetros deverá ser de cerca três meses, após os quais se poderá avaliar “qual a adesão e o impacto” da medida.

Para que a linha dos Serviços Municipalizados de Transportes Urbanos de Coimbra (SMTUC) entre em funcionamento, falta resolver uma questão no Jardim Botânico. Nesta parte do trajecto, informou o autarca na reunião, o “único problema que subsiste” é uma “prospecção arqueológica suplementar”.

A abertura do trajecto através do Jardim Botânico da universidade foi acordado entre município e a instituição, tendo a adjudicação da obra sido feita em Abril de 2015. Com um prazo de execução de 150 dias e um orçamento de 350 mil euros, a totalidade dos custos foi assumida pela autarquia.

Ao abdicar do automóvel para ir para a Alta, Manuel Machado refere que a alternativa passa por estacionar em um dos três parques de estacionamento localizados no percurso da linha a ser percorrida pelo mini-autocarro: Parque Verde, Convento de São Francisco ou Praça das Cortes (junto ao Estádio Universitário e cuja adjudicação das obras está em “fase final”, menciona).

Solução questionável

Apesar das medidas adoptadas pelo executivo, um investigador da Faculdade de Economia da UC com trabalho desenvolvido na área de economia urbana duvida que estas venham a resolver a questão do estacionamento na Alta.

João Pedro Ferreira, que analisou este problema naquela zona da cidade em 2010, entende que a solução deveria ser “muito mais estruturante”. Ou seja, o estacionamento pago é uma solução, mas “num contexto em que o planeamento é muito mais vasto, a pensar toda a área e não três ruas de cada vez”.

Defendendo que “era necessário que houvesse uma intervenção no quadro da política do estacionamento e dos transportes” da cidade, o investigador considera que as medidas aprovadas na reunião do executivo ficam “um bocadinho aquém” de o que “são as necessidades para este problema”.

No estudo que fizemos, a conclusão a que chegámos é que, em alguns dias da semana, às 8h40, o estacionamento já está saturado. Os cerca de 800 lugares disponíveis já estão praticamente cheios”, ilustra. João Pedro Ferreira não acredita portanto que esta situação seja alterada com a oferta de uma linha que ligue Santa Clara, a beira-rio e a Alta Universitária via Jardim Botânico.

Ressalvando que a nova linha “faz sentido e vai ser muito útil para a cidade”, o investigador antevê que esta não vai resolver os problemas da Alta. Não prevê também que seja um “serviço prestado por autocarro de menores dimensões, por um percurso que tem tanto de bonito como de sinuoso” que consiga transportar a quantidade de pessoas que deveriam deixar de estacionar na Alta.

Outro problema que “não está a ter a atenção necessária” é o facto de o estacionamento continuar a ser gratuito nos largos D. Dinis e da Sé Nova. “Se estas zonas permanecem gratuitas e só as outras são pagas, isto vai criar uma maior pressão” sobre estes dois locais, “que são pontos centrais, quer do ponto de vista turístico quer da mobilidade” da Alta, aponta.

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