Estacionar na Alta de Coimbra custa três horas por mês

Foto
A Alta universitária de Coimbra, como a conhecemos, vai mudar Nelson Garrido

Com os projectos do Metro Mondego e da candidatura a Património da Humanidade em curso, Coimbra vive “um momento único para intervir” no estacionamento na Alta universitária. É “um problema” com implicações no património e no ambiente, defendem autores de estudo.

A Alta universitária de Coimbra, como a conhecemos, vai mudar. Com a candidatura a Património da Humanidade em curso, o número de carros que aqui circula e se estacionam, de forma legal e ilegal, terá que diminuir. Há “um problema estrutural” ligado às questões do tráfego e do estacionamento na zona e foi essa constatação que motivou João Pedro Ferreira a dedicar uma tese de mestrado ao tema.

Durante 11 dias, entre as 7h30 e as 10h30, este aluno da faculdade de Economia da Universidade de Coimbra (UC) foi contar carros para aquela zona, “para ver em que momento é que se dava a saturação da oferta”. De acordo com os inquéritos realizados, os automobilistas perdem em média três horas por mês à procura de um lugar para estacionamento. Entre as 8h30 e as 8h40, o estacionamento gratuito e legal fica saturado; entre as 9h00 e as 9h10, fica preenchido o ilegal; e, só depois, entre as 9h20 e 9h30, são ocupados os lugares com parquímetros.

Quase 80 por cento dos automobilistas estão "insatisfeitos ou muito insatisfeitos com a disponibilidade de estacionamento no Pólo I”. Por outro lado, 50 por cento dos utentes de transportes públicos estão satisfeitos ou muito satisfeitos com o serviço. Mais: 75 por cento dos automobilistas admitem pagar para terem um lugar de estacionamento garantido e cerca de 74 por cento dizem que, mediante a subsidiação parcial ou total do passe de transporte público, estariam disponíveis para abdicar do automóvel.

Articular soluções

João Pedro Ferreira e os investigadores que acompanharam o estudo acreditam que é possível mudar a face da Alta. E estão confiantes quanto às potencialidades do projecto do Metro Mondego, desde que articulado com o parque de estacionamento subterrâneo previsto para o Largo D. Dinis, onde vão caber 400 carros. “Não somos contra o parque, mas apenas poderá ser parte da solução. Terá que ser articulado”, defende um dos orientadores da tese, Eduardo Barata, argumentando, porém, que “estes problemas se resolvem sobretudo controlando a procura e não aumentando a oferta” de estacionamento.


Há 1351 lugares de estacionamento na Alta: 35 por cento gratuitos e legais; 10 por cento ilegais; 42,5 por cento de acesso condicionado da UC (mediante pagamento de 160 euros por ano); e 10 por cento de estacionamento pago, com parquímetros, na rua Padre António Vieira.



A solução para descongestionamento da Alta deverá passar pelo uso dos transportes públicos. Luís Cruz, também orientador da tese, acredita que, se estes transportes forem fiáveis, as pessoas acabam por aderir. João Pedro Ferreira explica que "ninguém está disposto a perder o emprego ou a levar uma repreensão porque o autocarro nunca vem à hora certa": "Não pode haver nenhum risco associado ao uso do autocarro”, sublinha.


Metro pode ser a solução

O projecto do metro prevê uma paragem nos Arcos do Jardim, a cerca de cinco minutos a pé da Alta Universitária. De acordo com o previsto, nas horas de ponta, existirá um intervalo de 2,5 a 5 minutos entre cada viagem. Por isso, Eduardo Barata espera que Coimbra adira em “em massa” ao projecto.


O presidente da empresa Metro Mondego, Álvaro Seco, considera, até como especialista em transportes, que, desde que “seja usado no essencial para eliminar grande parte do estacionamento” à superfície, o parque previsto para o D. Dinis "não condiciona o metro". Defende, porém, que o estacionamento na praça D. Dinis “deve desaparecer”, assim como em frente à Faculdade de Letras: “É uma zona demasiado nobre para ter estacionamento. Se o parque de estacionamento enterrado na zona de D. Dinis servir para eliminar esse parque de estacionamento, parece me uma boa troca”, defende.
Ainda de acordo com o estudo, cerca de 75 por cento das pessoas estariam dispostas a pagar até 5 euros por um lugar (cerca de 35 por cento, estariam dispostas a pagar até um euro; cerca de 28,6 por cento, entre um e dois euros, e 10,7 por cento, entre dois e cinco euros).

Com essas receitas poder-se-ia subsidiar passes de transportes públicos aos utentes da universidade que se desloquem para o campus. Eduardo Barata conta que oito universidades americanas o fizeram, impondo, ao mesmo tempo, restrições muito fortes ao estacionamento dentro do campus: “A utilização dos transportes públicos nalgumas delas subiu cerca de 400 por cento", diz.

O vice-presidente da autarquia, Barbosa de Melo, admite que “não está no horizonte próximo” introduzir mais parquímetros na zona das faculdades. Ainda assim, reconhece que “a confusão é muito grande na zona” e que “é fundamental por alguma ordem naquele caos”.

Há ainda as questões ambientais que preocupam o Provedor do Ambiente e de Qualidade de Vida de Coimbra: “Há picos matinais [de poluição], o que “poderá ter a ver com o maior fluxo de pessoas àquela hora para a universidade e também com as dificuldades para encontrarem um local para estacionamento”, diz Massano Cardoso, alertando também para a poluição sonora.

Apesar de o pico de tráfego ser maior entre 8h00 e as 9h00, a qualidade do ar é pior entre as 9h00 e as 10h00. “É aquele momento em que os carros andam à procura de lugar sem o encontrarem”, diz João Pedro Ferreira.

Sugerir correcção
Comentar