O Rio está pronto para a festa. Pelé é baixa de última hora

Com um orçamento reduzido, o Brasil recorre ao melhor que tem para se mostrar ao mundo na cerimónia de abertura dos Jogos Olímpicos: samba, funk e bossa nova, beleza, ritmo e criatividade, natureza, história e a esperança num futuro fugidio. Pelé falta à festa por razões de saúde.

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Pelé segura a tocha olímpica numa imagem datada de 22 de Julho. Ainda não se sabe se repetirá o gesto na cerimónia de abertura dos Jogos Olímpicos do Rio. Andre Luiz Mello/AFP

É suposto ser segredo, mas o ensaio geral desta semana revelou grande parte do que 50 mil pessoas no Maracanã e outras três mil milhões coladas ao televisor vão ver na cerimónia de abertura dos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, marcada para as 20h locais (meia-noite em Lisboa). Há bichos gigantes a caminhar na floresta tropical virgem, há colonos portugueses e escravos africanos a chegar à costa, e há depois um país que se ergue com sangue e suor e que não faz questão de esconder o que correu menos bem: uma favela gigante irá erguer-se no centro do estádio e a crítica social estará presente em vários números musicais. Mas sempre a olhar para a frente e a sublinhar a capacidade criativa das gentes brasileiras.

Será uma reconstituição “cool” mas virada para o futuro de como se fez o Brasil, segundo a equipa de luxo de directores criativos, os realizadores Fernando Meirelles, Andrucha Waddington e Daniela Thomas. Mas, como disse Thomas, será também uma festa à MacGyver (o herói que se desenrascava com o pouco que tinha à volta), à base da gambiarra (o equivalente brasileiro do lusitano desenrascanço). Os números não são conhecidos, mas o orçamento para a cerimónia olímpica desta noite será o mais reduzido da história recente.

Jogos Olímpicos em casa? O Rio desconfia, mas vai torcer

Ainda assim, há 5000 figurantes, 300 bailarinos e acrobatas e três horas para apresentar o Brasil ao mundo com a ajuda de alguns dos seus mais conhecidos representantes. Os clássicos Caetano Veloso e Gilberto Gil vão partilhar o palco com a jovem estrela pop Anitta e interpretar em conjunto temas como Isso Aqui O Que É e Aquarela do Brasil (ambos de Ary Barroso), Aquele Abraço (de Gil) e Construção (de Chico Buarque). Ludmilla, funkeira negra, vai cantar o Rap da Felicidade (de Cidinho e Doca) e protagonizar um momento de crítica à desigualdade social e à violência. Paulinho da Viola vai cantar o hino nacional, sozinho, ao violão. A actriz Fernanda Montenegro dirá um poema em português que será traduzido para inglês pela actriz britânica Judi Dench, que é a única estrela internacional confirmada na cerimónia (apesar de se falar ainda em vários nomes da música mundial).

Há, no entanto, um número que já se sabe que irá sofrer uma alteração. A supermodelo Gisele Bündchen iria protagonizar um incidente com um menino negro que surgiria no meio da cerimónia e seria confundido com um assaltante pela polícia. Gisele intercederia pelo rapaz e esclareceria o mal-entendido, mas o número que tinha como intenção criticar o racismo acabou ele mesmo por ser visto como uma representação preconceituosa pela imprensa local e internacional. O realizador Fernando Meirelles admitiu que o sketch “não teve piada” e anunciou a sua retirada.

Gisele, no entanto, vai mesmo participar na cerimónia e sambar a Garota de Ipanema ao som do piano de Paulo Jobim, filho do histórico Tom. O samba irá de resto marcar o final do evento, com 12 escolas do Rio de Janeiro a recriarem o Carnaval no Maracanã.

Segue-se por fim o desfile das comitivas olímpicas nacionais. Uma vez que o Maracanã não tem pista de atletismo, os atletas vão dirigir-se ao centro do terreno e sair de forma alternada pela esquerda e pela direita.

Jogos Olímpicos: um evento que dá (quase) sempre prejuízo

Sabendo-se quase tudo sobre a cerimónia, a grande dúvida para esta noite centrava-se até esta sexta-feira sobre a participação de outro embaixador da nação brasileira. Pelé tinha convidado para acender a pira olímpica com a tocha que irá entrar no estádio pela mão do tenista Gustavo Kuerten. Se antes havia compromissos comerciais a atrapalharem os planos, o problema fora entretanto ultrapassado. Restava saber se os problemas de saúde da lenda do futebol permitiriam a sua participação no evento. De acordo com um comunicado do antigo jogador, não vai ser possível.

"A responsabilidade das decisões é minha. Neste momento não estou em condições físicas de participar na abertura", anunciou Pelé. O ex-futebolista, que foi alvo de várias intervenções cirúrgicas nos últimos anos, pediu "a Deus" que "abençoe" os Jogos e que estes sejam "um grande sucesso e terminem em paz".  

Outra dúvida que resta: como vão correr os delicados dez segundos da declaração oficial de abertura dos Jogos Olímpicos. Evitará o Presidente em exercício, Michel Temer, uma vaia no Maracanã? O dia pode ser de festa, mas o Brasil não esquece a crise política e económica que acabou por manchar os Jogos Olímpicos.

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