Doping a ensombrar Jogos mesmo antes do seu início

Afastamento do atletismo russo marcou um evento que ainda nem começou. Combate ao doping estará debaixo dos holofotes e promete-se rigor extremo.

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O doping tirou o atletismo russo dos Jogos Olímpicos MAXIM SHEMETOV/Reuters

Estes são uns Jogos Olímpicos marcados por várias circunstâncias que tornam o evento diferente dos anteriores: o vírus Zika, a poluição, os atrasos, a falta de condições da aldeia olímpica. Entre estes problemas está o doping, que já ensombrou os Jogos mesmo antes deles começarem, retirando de cena vários atletas e vários deles candidatos a medalhas. Estes são os Jogos em que a Rússia não marcará presença no atletismo, sendo uma potência da modalidade. Depois de denúncias da atleta Yuliya Stepanova e do canal de televisão alemão ARD, uma comissão de inquérito ao serviço da Agência Mundial Antidopagem (AMA) confirmou a existência de um sistema organizado de doping no atletismo russo e, a 13 de Novembro do ano passado, a Associação Internacional de Federações de Atletismo (IAAF) suspendeu provisoriamente a federação russa. A suspensão de todas as provas internacionais e, consequentemente, dos Jogos Olímpicos, foi confirmada a 17 de Junho. Perante a proximidade dos Jogos, os 68 atletas russos recorreram para o Tribunal Arbitral do Desporto (TAD), que, no dia 21 de Julho, rejeitou os recursos e privou, definitivamente, os atletas de irem ao Rio de Janeiro.

A juntar a isso, esteve em cima da mesa a ausência de toda a comitiva russa dos Jogos do Rio, como consequência do “relatório Mclaren”, que denunciou a existência de um sistema de doping em 30 modalidades, patrocinado pelo próprio Estado russo, e que esteve em vigor nos Mundiais de atletismo de 2013 e nos Jogos Olímpicos de Inverno de 2014. O Comité Olímpico Internacional recusou banir toda a Rússia dos Jogos e empurrou a decisão para as federações internacionais de cada modalidade. Desde aí até ao presente dia vários atletas russos de várias modalidades têm sido afastados. Ao todo a comitiva russa era de 389 atletas, mas a mais de 100 foi barrada a participação. Serão entre 271 os atletas a representarem o país no Rio de Janeiro, confirmou nesta quinta-feira o Comité Olímpico Internacional (COI).

Apesar de não contarem com nomes como o da recordista mundial do salto com vara Yelena Isinbayeva, da campeã do mundo do salto em altura Mariya Kuchina, da campeã do mundo dos 100 metros bruços Yuliya Efimova ou do campeão olímpico de canoagem no K2 200 metros, Alexander Dyachenko, só para citar alguns, os russos mantêm a expectativa de conquistar várias medalhas, principalmente nas modalidades que são tradição como o boxe, a ginástica artística e a luta. As outras duas grandes modalidades russas são o atletismo e o halterofilismo, mas que, no Rio, não terão representantes.

Os escândalos de doping não se ficaram por aqui. Duas séries de reanálises às amostras de Pequim 2008 e Londres 2012 resultaram em 98 novos casos de atletas que acusaram positivo nas duas últimas edições dos Jogos. No mês passado, o COI garantia em nota no site oficial: “Todos os atletas que se descubra que infringiram as regras antidoping serão proibidos de competir nos Jogos Olímpicos Rio 2016”. O COI indicou ainda que estão previstas uma terceira e quarta séries a efectuar durante e após os Jogos do Rio.

Noutros casos, foi já este ano que os atletas foram apanhados nas malhas do doping. Nesse sentido, o ano começou com o controlo positivo de Maria Sharapova no Open da Austrália. A tenista russa, hipótese de medalha para a Rússia nos Jogos, foi suspensa por dois anos, em Junho. Depois, em Abril, foi a vez de o egípcio Ihab Abdelrahman, vice-campeão do mundo em título do lançamento do dardo, ser descartado do Rio, depois de um laboratório de Barcelona ter detectado uma substância dopante. Mais recentemente, “em cima” dos Jogos, outro atleta foi apanhado, como o indiano Inderjeet Singh, campeão asiático do lançamento do peso, que testou positivo num controlo fora de competição, feito pela agência indiana antidopagem. Quanto ao marroquino naturalizado italiano Jamel Chatbi, atleta dos 3000 metros obstáculos, fica de fora dos Jogos do Rio por ter evitado submeter-se a um controlo antidoping pela terceira vez num ano.

Por tudo isto, o combate ao doping nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro estará debaixo dos holofotes. No Brasil garante-se rigor extremo. Far-se-ão entre cinco mil e cinco mil e quinhentos controlos antidoping nas 42 modalidades e todos os medalhados serão controlados. Recolhas de urina serão feitas a todos os atletas, de sangue apenas a alguns. As amostras serão enviadas para o Laboratório Brasileiro de Controle de Dopagem, que chegou a estar suspenso provisoriamente pela AMA entre 24 de Junho e 20 de Julho por “erros técnicos”. Como se trata do único laboratório autorizado pela AMA no Brasil, caso não estivesse operacional durante os Jogos, as amostras teriam de ser enviadas para o estrangeiro, o que atrasaria a divulgação dos resultados. Mas, agora, está tudo operacional e a expectativa do director, Francisco Radler, é a de que alguns resultados se saibam em apenas 24 horas e, os mais morosos, até três dias. “Acredito que os resultados positivos fiquem mais ou menos no mesmo patamar de sempre, entre 2% e 3% do total”, disse por sua vez Ivan Pacheco, um dos 180 médicos que irão recolher amostras, em declarações à imprensa brasileira.

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