Moreira dá pelouro a vereador eleito pelo PSD no Porto e baralha tudo

Concelhia do PSD acusa vereador eleito nas suas listas de deslealdade, mas os dois sociais-democratas que restam na oposição elogiam o ex-companheiro e o presidente da câmara pela escolha.

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Rui Moreira protagonizou com Menezes o único momento mais tenso da noite Rui Farinha

O convite do presidente da Câmara do Porto ao vereador independente eleito pelo PSD Ricardo Valente, para assumir o pelouro da Economia, veio mostrar ao PS que o executivo não está refém da manutenção do apoio socialista e dividir os sociais-democratas. A concelhia não perdoa a "deslealdade" de Ricardo Valente. Pelo contrário, os dois vereadores do PSD que permanecem na oposição elogiam o agora ex-companheiro e o próprio presidente, por o ter escolhido.

Contactado pelo PÚBLICO, Ricardo Valente fala de um “convite surpreendente” e diz esperar estar à altura das suas "novas responsabilidades” autárquicas. Até porque, diz, “há muito trabalho para fazer, quer na área do investimento quer na área empresarial”.

“Desde o início que voto de acordo com a minha consciência, nunca segui directórios [políticos]. Procurei ser sempre coerente dando a minha opinião, embora nem sempre tenha estado de acordo com tudo o que o executivo fez, mas, estruturalmente, estive sempre de acordo”, sublinha o vereador Ricardo Valente, que é também professor universitário.

O vereador, que espera assumir em breve o pelouro, tem já muito trabalho à espera a nível da reestruturação das empresas municipais (e dos seus estatutos). Rui Moreira conta com a sua experiência para ajudar neste processo que inclui a  reformulação de empresas municipais e a criação de novas estruturas.

No PSD fazem-se as mais variadas leituras do convite de Rui Moreira, mas a comissão política da concelhia social-democrata já reagiu, e de forma violenta.

Fonte social-democrata diz que Rui Moreira, com este convite, faz duas coisas: “Por um lado, toma conta da oposição e, por outro, torna 'mais cara' a negociação com o PS com vista a um acordo pré-eleitoral para as autárquicas de 2017. “Rui Moreira deu ainda um sinal à maior parte do seu eleitorado, que é proveniente do PSD”, acrescenta a mesma fonte.

Desta forma, o presidente ganha um aliado independente e, ao mesmo tempo, mostra ao PS de Manuel Pizarro, que “nada está garantido em termos de autárquicas”, observa uma outra fonte, sublinhando que o que “era expectável é que o presidente entregasse o pelouro da Economia, que assume desde que foi eleito presidente, à vereadora do PS, Carla Miranda, ou ao independente que se lhe segue na lista, Manuel Correia Fernandes, mas não o fez. Escolheu um vereador que não está comprometido com a governação e isso é significativo”.

Seja como for, na concelhia do PSD a notícia foi recebida como uma bomba. Em comunicado, Miguel Seabra, líder da concelhia, acusa Ricardo Valente de “deslealdade para com quem o elegeu” e não lhe poupa críticas, recordando que o futuro vereador da Economia da Câmara do Porto referiu-se “quase sempre em tom de crítica contundente ao trabalho do actual executivo camarário, no que às contas municipais diz respeito e de forma no mínimo irónica em relação a alguns dos seus, agora, colegas da vereação”.

Afirmando que “o PSD não contribuirá para o negócio da ‘compra e venda’ de apoios políticos”, Miguel Seabra refere-se ao executivo camarário como um “albergue” e a Ricardo Valente como um “cristão-novo a juntar a uma amálgama de raças, credos e oportunismos, sem precedentes na cidade do Porto”. O comunicado da concelhia do PSD afirma ainda que o executivo de Rui Moreira “é responsável por uma inenarrável execução orçamental”.

Fontes sociais-democratas ouvidas pelo PÚBLICO consideram que “o PSD vai ter de encontrar uma estratégia autónoma para a Câmara do Porto, porque perdeu o timing para dar o apoio a Rui Moreira e tirar o tapete ao PS”.

O primeiro vereador do PSD no executivo, Amorim Pereira, destaca “o excelente trabalho que Ricardo Valente tem vindo a desenvolver enquanto vereador, em benefício da cidade do Porto” e realça “a grandeza de carácter e inquestionável lealdade de Ricardo Valente, que sempre se comportou em obediência à sua consciência, tendo em vista os reais interesses da cidade”. Elogia também Rui Moreira pela escolha.

Já o vereador da PSD, Ricardo Almeida, diz que o presidente quis dar um “sinal claro ao seu eleitorado, que é um eleitorado do centro-direita”.

 

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