Um rotundo não ao império germânico

O que ontem — para efeitos de tentar arrastar os eleitores — era necessariamente lento, arrastado e difícil, hoje, para efeitos de procurar desesperadamente evitar que outros países europeus sigam o exemplo do Reino Unido, já deve ser feito expedita e rapidamente!

A vitória da saída da União Europeia (por 51,7% contra 48,3%) no referendo levado a cabo no Reino Unido assume uma enorme importância, a vários níveis.

Antes de mais, o facto de a questão da saída (tal como a da entrada…) na UE ter sido submetida ao basilar princípio democrático da consulta popular, num referendo, que aliás contou com a participação de quase três quartos (12%) dos cidadãos. Na verdade, numa Europa onde, a começar por Portugal, partidos e dirigentes políticos que nunca pediram, nem nunca como tal se apresentaram a sufrágio, o voto do Povo para promoverem a entrada dos respectivos países na então CEE e mais tarde na União Europeia, bem como na União Económica e Monetária (ou Zona Euro) e antes tomaram essas decisões sempre nas costas do Povo, fazer-se um referendo para que o mesmo Povo diga se quer entrar, ou se quer permanecer, naquelas instituições, é de fazer estarrecer por completo tais partidos e dirigentes, que de democráticos, afinal, só têm (quando têm) o nome.

Depois, a circunstância de o “sim” à saída da União Europeia ter vencido numa campanha marcada pelas contínuas e maciças operações de intimidação e de intoxicação da opinião pública levadas a cabo pelos grandes interesses económico-financeiros e pelos políticos e opinion makers ao seu serviço.

Na verdade, desde os “mercados” (designação eufemística dada aos grandes especuladores financeiros) e grandes bancos e instituições financeiras, até aos donos de grandes empresas (como a Toyota, a Range Rover e outras), passando pelos chamados dirigentes das chamadas “instituições europeias”, bem como pelos governantes nacionais e pelos comentadores e opinadores oficiais, todos, sem excepção, vociferaram as maiores ameaças e procuraram por todos os meios intimidar os eleitores do Reino Unido.

O “socialista” alemão e presidente do Parlamento Europeu Martin Schulz afirmou que se a “saída” ganhasse, teria que “haver consequências”, até para “evitar que outros possam seguir esse caminho perigoso”. O presidente do Conselho Europeu Donald Tusk e o presidente da Comissão Europeia Jean-Claude Juncker advertiram insistentemente que a saída do Reino Unido seria um processo perigoso, complexo e moroso. Os “especialistas” e os “economistas” do costume debitaram, com o habitual ar “científico” que os caracteriza, consecutivas previsões de quebras monumentais do PIB e de grave crise económica, financeira e social para o Reino Unido. E o próprio porta-voz do governo francês, o “socialista” Stéphane Le Foll, ameaçou que se os britânicos votassem pela saída da UE logo se lhes acabariam as ajudas agrícolas e o acesso ao mercado único. Tão curioso quanto significativamente, uma vez conhecido o resultado favorável à saída, eis que os ditos Martin Schulz, Jean-Claude Juncker, Donald Tusk e o holandês Mark Rutter (da presidência rotativa holandesa) logo se apressaram a fazer um comunicado conjunto a exigir agora — não vá o exemplo, que nunca esperaram, contagiar outros países… — que o Reino Unido saia da União Europeia “o mais rapidamente possível, por muito doloroso que o processo possa ser”.

Ou seja, o que ontem — para efeitos de tentar arrastar os eleitores — era necessariamente lento, arrastado e difícil, hoje, para efeitos de procurar desesperadamente evitar que outros países europeus sigam o exemplo do Reino Unido, já deve ser feito expedita e rapidamente!

Finalmente, o real significado desta expressão de vontade dos povos britânico e irlandês é que estes já há muito compreenderam que a União Europeia não é a Europa e que, ao contrário do que pensa François Hollande (o qual — recorde-se ainda e uma vez mais — o primeiro acto oficial que praticou logo após a sua eleição foi, com um conservador patriota como De Gaulle às voltas na tumba, ir a Berlim prestar vassalagem a Angela Merkel…), a dita UE não é sequer a partilha da Europa pela França e pela Alemanha, mas antes o controle pelo poderio germânico de todos os países europeus, muito em particular os da zona euro, a começar pela própria França.

E se são forças políticas de direita que aparecem a apoiar, encabeçar ou mesmo dirigir este movimento de recusa de perda de independência nacional e de sujeição ao domínio alemão, tal apenas se deve ao facto de que, como se vê, são os partidos e os políticos que se dizem de “esquerda” que precisamente têm alienado essa mesma independência e vendido os seus países e respectivos recursos ao imperialismo germânico.

A saída do Reino Unido da União Europeia, decidida democraticamente pelo seu povo em referendo, representa e significa, pois, uma violenta bofetada nos demagogos, oportunistas e ameaçadores políticos pró-Alemanha, um magnífico (e, pelos vistos subversivo…) exemplo para os restantes países europeus e, sobretudo, um rotundo “Não!” ao império germânico! Advogado e antigo dirigente do PCTP/MRPP

 

 

 

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