Vanessa da Mata com Delicadeza a “brincar com uma estética mutante”

Passadas muitas multidões e sete discos, Vanessa da Mata volta à depuração do seu começo. Delicadeza, o espectáculo nascido desse conceito, é apresentado nos Coliseus, esta sexta-feira em Lisboa e sábado no Porto.

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Vanessa da Mata fotografada para o disco Segue o Som MARCOS HERMES
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Vanessa da Mata fotografada para o disco Segue o Som MARCOS HERMES
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Vanessa da Mata fotografada para o disco Segue o Som MARCOS HERMES

Conhecemo-la primeiro como compositora, através de Chico César e Maria Bethânia, mas bastou o primeiro disco a solo, em 2002, para se tornar uma estrela ascendente. No início do século, Vanessa da Mata era apenas um segredo bem guardado. Hoje, é já um nome gravado com legitimidade e segurança no firmamento musical. Nascida em 1975 em Alto Garças, no Estado de Mato Grosso, depois de Vanessa da Mata, o disco de estreia, lançou mais seis: Essa Boneca Tem Manual (2004), Sim (2007, onde gravou Boa sorte com Ben Harper) Multishow Ao Vivo (2009), Bicicletas, Bolos e Outras Alegrias (2010), Vanessa da Mata Canta Tom Jobim (2013) e Segue o Som (2014). Durante a digressão deste último (que continua, mas está quase no fim), imaginou um espectáculo diferente. E decidiu chamar-lhe Delicadeza. Apresenta-o agora em Portugal, nos Coliseus de Lisboa (esta sexta-feira, às 21h30) e do Porto (no sábado, também às 21h30).

“Eu tinha vindo de um projecto que gostei muito de fazer, sobre Tom Jobim. Com orquestra, lembrando a orquestra do Tom”, diz Vanessa ao PÚBLICO. Depois dele veio Segue o Som, ainda com uma sonoridade bem forte e contributos de músicos como Liminha e Kassin: “Esses são parceiros contínuos, desde o começo. Mas há outros, como Fernando Catatau ou Marcelo Jeneci. São importantes inclusive nos arranjos, não só nas composições.” Tudo isso levou-a a experimentar um regresso à depuração do seu começo. “Acho que precisei de mudar completamente. Sair de onde a carreira me tinha levado para voltar a um lugar lá atrás, como se fosse um recomeço, onde pudesse me sentir em casa. É uma necessidade de trazer de novo a intimidade para a minha carreira.” No palco começou apenas dois músicos (Danilo Andrade, piano, e Maurício Pacheco, violão e guitarras), a que veio juntar-se um outro, com “texturas tecnológicas” (computador, sintetizador, vozes pré-gravadas) e é essa formação que se apresenta agora nos coliseus. “É um show que eu considero bem experimental, ele vai mudando conforme o tempo, não quero que ele fique estático. Há uma necessidade minha de brincar com essa estética mutante.”

Brasil vai reerguer-se

A ideia é ficar pelo palco, sem dar lugar a disco. “A gente está tendo muita insistência para transformar isso em DVD. Mas está muito no início, ainda. É um show que mostra o meu potencial vocal em várias músicas e interpretações, que traz as composições de uma maneira mais silenciosa. E eu gosto dessa sensação.” E Vanessa acha que é este o momento para um espectáculo assim. “O meu primeiro disco tinha já a proposta de uma certa delicadeza. Como estou a completar 17 anos de carreira, que na verdade são 20, se não começarmos nos discos, comemorar pode ser trazer também um pouco do começo.”

Vanessa da Mata compõe muito, e por impulso. Tem vindo a juntar centenas de letras e canções, de qualidade irregular, que ela vai usando quando se justifica. “Componho compulsivamente, mas faço pior: escrevo livros, desenho roupa, não paro. Tenho três filhos, acordo de madrugada, trabalho muito.” Em 2013 lançou, “com apadrinhamento de José Eduardo Agualusa e Luiz Schwarcz, da Companhia das Letras”, o seu primeiro romance, A Filha das Flores (Ed. Quetzal, 2013).

Quanto à situação actual no Brasil, a sua posição é desassombrada mas esperançosa: “As crises pessoais e interpessoais causam, com certeza, influências em nós. Eu acho que a gente passa por um tempo muito significativo, uma necessidade de não haver mais corrupção, de entender em absoluto a política. É uma crise realmente catastrófica, cada dia eu vejo mais pessoas a viver nas ruas, hospitais sem verba, uma coisa horrível. Sei que há altos e baixos sempre, é uma coisa estranha o que acontece connosco. Mas a gente vai passar por isso e vai se reerguer novamente, é uma coisa brasileira mesmo.”

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