Bastonário dos médicos diz que publicidade a cálcio é "comércio criminoso"

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José Manuel Silva está há ano e meio à frente da Ordem Foto: Sérgio Azenha/Arquivo

O bastonário da Ordem dos Médicos (OM), José Manuel Silva, disse esta quinta-feira em Coimbra que a publicidade ao consumo de cálcio é “um comércio criminoso”. “A publicidade que é feita ao [consumo de] cálcio é lamentável, é um comércio criminoso que põe em causa a saúde pública dos portugueses, pela toma excessiva” do produto, afirmou José Manuel Silva, que falava à margem do Fórum Ibero-Americano de Entidades Médicas, em Coimbra.

“Com promessas de resultados, que não são fundamentados”, mas que “põem as pessoas a tomar cálcio quando não necessitam dele” ou em excesso, essa propaganda “traz problemas de saúde”, provocando inclusivamente doenças, advertiu.

A indústria farmacêutica investiu, em Portugal, “num ano, em publicidade de medicamentos de venda livre” cerca de 710 milhões de euros, salientou o bastonário. “A publicidade a medicamentos sujeitos a prescrição médica é proibida - e bem -, mas a publicidade a medicamentos de venda livre tem de ser limitada, tem de ser regrada, tem de ser honesta”, defendeu José Manuel Silva.“Neste momento, a publicidade [a esses produtos] é desonesta”, é “enganosa” e “é contra isso que a Ordem do Médicos e a Ordem dos Farmacêuticos têm alertado”, acrescentou.

Durante a sua intervenção na primeira sessão do fórum, sobre a “Medicalização da vida e política de medicamentos”, o bastonário considerou que é "preciso pôr alguns limites a esta publicidade”. Mas José Manuel Silva reconheceu que isso não é fácil, designadamente pelo facto de esta publicidade constituir “umas das principais receitas dos órgãos de comunicação social”.

Falando em castelhano (língua comum à maior parte dos participantes na reunião), o bastonário também alertou para a toma excessiva de antibióticos em Portugal, e de calmantes e outros psicotrópicos, designadamente pelas crianças e jovens. “Estamos a medicalizar excessivamente, há cada vez mais crianças a tomar psicotrópicos”, lamentou, considerando que “é necessária uma política não só nacional, mas internacional” para evitar este fenómeno, pelo menos ao nível regional (Europa, América Latina, por exemplo).

Também em Espanha, “todas as políticas são no sentido de promover o uso excessivo de medicamentos”, corroborou José Rodríguez Sendín, presidente do conselho geral da organização profissional dos médicos de Espanha (entidade homóloga da OM portuguesa). Sendín apontou a publicidade e a falta de tempo imposta aos clínicos para as consultas médicas como duas das principais causas da situação.
 

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