Não havia necessidade, Alice

Sem Tim Burton e quase sem Lewis Carroll, uma sequela puramente mercenária que quer encher o olho sem a mínima imaginação.

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Johnny Depp a repetir em piloto automático o seu número de excêntrico mascarado

A Alice no País das Maravilhas revista por Tim Burton em 2010 já não fazia grande falta, inscrevendo-se como se inscrevia no processo de “normalização industrial” de um dos últimos realizadores americanos a conseguir impôr um universo próprio e singular ao mainstream. E esta sequela mercenária (que a Lewis Carroll não vai buscar nada para lá do título e das personagens) ainda menos falta faz, limitando-se a alinhar clichés de base das narrativas Disney sem imaginação, esperando que os efeitos visuais para encher o olho e o tarefeirismo funcional mas anónimo do inglês James Bobin consigam atirar areia para os olhos do espectador. Mas, na ausência dos motivos de interesse do seu predecessor (a saber, a direcção de Burton e o universo de Carroll), que razão pode um filme como Alice do Outro Lado do Espelho ter para existir, a não ser a pressão da indústria para gerar “produto” que corresponda a uma determinada “receita” de bilheteira?

É verdade que sempre houve filmes assim em Hollywood, mas sempre iam existindo pelo meio de um ecossistema de produção mais variado. Hoje, as opções são isto, os Angry Birds, os X-Men e outros Vingadores – e o desalento de termos de ver Johnny Depp a repetir em piloto automático o seu número de excêntrico mascarado (numa performance secundária que ainda assim merece mais destaque no marketing do que a heroína titular Mia Wasikowska), na base do “para quem é bacalhau basta”, sublinha o mau momento da grande produção.

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