A fotografia analógica no 1/4 escuro

Neste quarto só se trata de fotografia analógica

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Pedro Freitas

O 1/4 escuro é sinónimo de fotografia analógica — e de um grupo de cinco amigos que se conheceu num fórum online. Depois de alguns passeios, Bruno Candeias, Gonçalo Matias, Luis Silvério, Tiago Soares e Pedro Freitas acharam que era altura de arranjar um espaço para explorarem o passatempo que os move.

Nenhum deles tirou cursos de fotografia nem faz da fotografia uma profissão de sustento. São simplesmente fotógrafos amadores — não tendo isto de ser algo “depreciativo”, diz Gonçalo Matias ao P3 enquanto mexe na mesa de luz e se prepara para explicar o processo da revelação. Mais do que o resultado, é "o processo na execução da imagem” que os fascina, explicam. “Houve a oportunidade de transformar um fórum de Internet numa coisa física. Aqui há troca de conhecimentos, há crítica, há um acrescentar de saber todos os dias que nos juntamos”, contam Gonçalo Matias e Bruno Candeias.

Às terças-feiras e aos sábados reúnem-se no laboratório de fotografia, no Espaço Lx Jovem, no Bairro do Armador, em Marvila. O espaço é propriedade da Câmara Municipal de Lisboa e concentra todo o material que a manutenção da fotografia analógica requer. No entanto, carece da presença de pessoas para ter uma dinâmica diferente. Para eles, é tudo uma questão de interesse e de divulgação. “O espaço em si não tem dificuldades. No entanto, o que mais falta é gente. Parte o coração a uma pessoa que gosta disto: chegar aqui e ter material guardado por não haver pessoas”, explicam.

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Bruno Candeias

A coisa começou por ser uma "cena" entre amigos e, a médio-prazo, o objectivo é manter-se assim: os workshops e os grandes eventos ficam de fora. Tudo o que querem é que as pessoas saibam que existe ali, em Marvila, um lugar onde se faz magia e que está aberto a todos os que queiram partilhar experiências e ideias.

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Gonçalo Matias

Hortas urbanas ilegais

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Luis Silvério

O próximo passo que dão como grupo é a exposição que estão a organizar sobre as hortas urbanas ilegais que a cidade de Lisboa tem. Basearam-se no tema em que o arquitecto Gonçalo Ribeiro Telles se debruçou, por volta dos anos 80. Apesar de a cidade ter nascido da agricultura, hoje já muito pouco a liga a essa actividade. No fundo, querem “documentar a existência desses espaços em pleno centro urbano”, evidenciando o facto de que ainda há quem precise de hortas para sobreviver.

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Tiago Soares

Para conseguirem com que esta exposição, cuja data e lugar estão por definir, se venha a realizar, lançaram uma campanha de crowdfunding para suportar os custos dos materiais consumíveis (o papel e os químicos usados). Gonçalo e Bruno confessam que a angariação de fundos tem um duplo papel: além do dinheiro reunido, querem pegar o “bichinho” da fotografia analógica. Esta exposição tem uma importância relevante para os jovens porque é o primeiro trabalho que fazem enquanto grupo. "Cada um tem o seu registo distinto e estarmos a abraçar este trabalho faz com que tenhamos de sair da zona de conforto. É a oportunidade ideal para nos desafiarmos e ver até que ponto a nossa metodologia e identidade estão formadas”, explica Gonçalo.

Acreditam que, quer o digital quer o analógico terão sempre o seu espaço — no tempo e no espaço. Mas, se se quer preservar o que de melhor o tradicional tem, é preciso assumir a responsabilidade de passá-la de mão em mão. “As gerações futuras dependem das gerações actuais”, defendem os elementos do 1/4 escuro. Que o bicho se pegue. De preferência, num quarto escuro.

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