Tinha o vício do snifador. Ilibado de terrorismo, foi condenado por usar faca contra avião

Caso de Calunga Gima surge num relatório internacional de contraterrorismo. Justiça sentenciou arguido que se diz perseguido por espíritos a quatro anos e meio de prisão efectiva.

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Calunga Gima foi encontrado agarrado ao trem de aterragem de um avião prestes a descolar para Luanda Daniel Rocha (arquivo)

O homem de origem angolana suspeito de terrorismo depois ter invadido, em 2014, a pista do aeroporto de Lisboa munido de uma faca foi nesta sexta-feira condenado por um dos tribunais do Campus de Justiça a quatro anos e meio de prisão efectiva. Não por ligações a organizações jihadistas, como queria o Ministério Público, mas apenas por ter tentado atacar com uma faca um avião que já havia iniciado manobras para descolar.

Ilibado da suspeita de pertencer a uma organização terrorista, Calunga Gima, de 29 anos, foi sentenciado por posse de arma proibida e atentado à segurança de transporte aéreo. Os juízes deram como provado que o arguido tencionava danificar o avião, apesar de não ter feito nada que pudesse realmente vir a causar algum tipo de acidente. Se não recorrer da sentença, terá de pagar uma indemnização de dez mil euros à companhia aérea angolana TAAG por danos não patrimoniais. Mas é provável que o faça. Há dois anos em prisão preventiva, manifestou essa intenção no final do julgamento.

Encontrado agarrado ao trem de aterragem do avião prestes a descolar, o arguido sempre negou ter tido intenção de atacar quem quer que fosse, tendo explicado a sua presença numa zona interdita do aeroporto, naquele dia de Verão de 2014, com a necessidade de fugir aos “espíritos” que, segundo explicou, o perseguiam desde a Holanda, país onde se naturalizou. O arguido nunca negou que tinha ido à Síria, facto que justificou às autoridades com a vontade de ajudar refugiados. Quando o prendeu no aeroporto, além da faca com uma lâmina de 20 centímetros, a polícia encontrou-lhe uma agenda com várias anotações, incluindo a frase "Fui para a Síria, através da Turquia. Recebi duas semanas de treino" e um post it com a palavra ISIL (sigla de Estado Islâmico do Levante).

Calunga Gima contou aos juízes que a experiência síria não correu como desejava: nunca encontrou refugiados nenhuns, mas o medo fê-lo fingir que se tinha convertido ao islamismo. Quando percebeu que numa das casas que visitou naquele país havia “homens sexuais”, resolveu ser altura de regressar à Holanda. Já se podia gabar aos amigos das suas proezas.

Foi mais ou menos por essa altura que começou a desconfiar de que um vizinho que lhe queria mal lhe havia feito bruxaria. O problema, explicou, é que os “maus espíritos” o acompanharam quando veio espairecer até Lisboa. A sua aproximação ao avião, justificou-a com a necessidade que sentia de “meter a cabeça nas turbinas, para deixar entrar aquela turbulência” e calar de uma vez por todas os espíritos.

Um relatório do Centro Internacional de Contraterrorismo do mês passado alude a Calunga Gima como o único terrorista apanhado em solo português: “Foi detido pelas autoridades portuguesas por tentar levar a cabo um atentado.” O Ministério Público pediu a sua condenação.

Os juízes não acreditaram nas explicações paranormais de Calunga, ao qual uma perícia detectou traços de personalidade borderline. E admitem ser “nebulosa” a história da sua aventura síria. Mas também não quiseram crer na tese do Ministério Público, de que terá regressado à Europa para perpetrar atentados a mando do Estado Islâmico.

Quando entraram no quarto de hotel em que estava hospedado em Lisboa, as autoridades depararam com um cenário preocupante: várias garrafas cheias de um líquido desconhecido. Analisado, verificou-se, porém, que era vinagre. Contactadas as suas congéneres holandesas, receberam uma informação desconcertante: o alegado terrorista tinha, afinal, o “vício do snifador”. Gostava de inalar substâncias. Se preferia vinagre, benzina ou outra coisa qualquer isso não se ficou bem a perceber.

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