Confiança, segurança e desenvolvimento num Portugal Europeu

Será no Mundo inteiro, mas com a Europa que encontraremos o futuro.

1. Na sociedade livre e democrática em que vivemos, confiança é o valor chave para o progresso, para o desígnio de promover o bem-estar social dos povos. Este sentimento de confiança cresce ou desvanece-se, gerando esperança ou descrença com as correspondentes consequências no desenvolvimento, em associação estreita com as perceções de qualidade, de segurança e de respeito que suscitamos ou que a envolvente nos suscita – qualidade humana e das instituições e dos serviços, segurança física, segurança económica, respeito pela dignidade humana e pelas instituições. Pois, não há que fugir de reconhecer que vivemos momentos difíceis, uma ‘verdade de La Palisse’. Vivemos no País um sentimento de insegurança, não tanto física, mas principalmente económica e social que se manifesta no desemprego ou subemprego e na desagregação de instituições financeiras. O respeito pela dignidade humana, esse esfuma-se na indiferença resultante do avolumar do drama social do desemprego e também do turbilhão emocional dos acontecimentos com os refugiados na Europa. Sentimos no essencial que estamos a dar um passo civilizacional atrás, relativamente a expetativas legítimas de futuro. Confiança é neste momento um bem escasso.

2. Em tempos difíceis importa revisitar a história e com os seus ensinamentos, certamente que com os olhos de hoje, procurar o caminho de um futuro que existe. Vivemos na Europa e somos parceiros numa União Europeia (UE) em que partilhamos conhecimento científico e tecnológico avançado, história e cultura. É nesse ambiente da União que temos que desenvolver os nossos referenciais de qualidade, em particular de organização coletiva, para fortalecer a nossa capacidade competitiva no Mundo Global de hoje, das Américas à Ásia distante. Ademais, temos valências fundamentais além-mar, herança da nossa história universal, que devemos explorar para benefício de todos os parceiros. Com as mais-valias da nossa cultura e do nosso conhecimento, ultrapassaremos as dificuldades.

3. A UE encontra-se igualmente numa encruzilhada, a viver dificuldades em várias dimensões e oriundas de várias geografias. Assistimos ao recuo da Europa Social, bandeira histórica da União, por força do domínio atual da economia sobre a política, um domínio que aumenta fossos sociais de forma insustentável. A promessa extraordinária aberta pela Queda do Muro de Berlim, em 9 de novembro de 1989, parece estar a esfumar-se nas múltiplas consequências que se lhe seguiram ao longo dos anos. Numa Europa de minifúndio, a União continua totalmente relevante para os países que a compõem, mesmo conhecendo a sua dificuldade histórica em concertar medidas, por um lado de defesa, por outro de dignificação humana, face às convulsões da Humanidade. Vivemos uma conjuntura que exige uma grande reflexão de procura de caminhos, mas dentro da União, o que espero que os britânicos entendam… quando votarem a 23 de junho. Será no Mundo inteiro, mas com a Europa que encontraremos o futuro.

Reitor da Universidade do Porto

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