Morreu Chus Lampreave, um dos rostos do cinema espanhol e uma mulher Almodóvar

Foi porteira três vezes para o realizador, a actriz com quem mais regularmente colaborou. Trabalhou também com Trueba e Berlanga. Era “parte da nossa vida”, diz o ministro da Cultura espanhol.

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O que fiz eu para merecer isto? DR
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À direita em Matador DR
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Em Negros Hábitos DR
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Com Rossy de Palma em A Flor do meu Segredo dr
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Abraços Desfeitos DR
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Em 2012, El Artista y la Modelo de Trueba RAFA RIVA/afp

Não filmou só com Pedro Almodóvar, o mais internacional dos realizadores espanhóis, mas também com Fernando Trueba, Berlanga ou Santiago Segura. Mas foi como mulher Almodóvar que Chus Lampreave, que morreu esta segunda-feira aos 85 anos, se tornou mais conhecida nas últimas décadas.

Lampreave foi uma das mulheres Almodóvar e não só no período de boom internacional do realizador, mas também no seu cinema mais recente – é, destaca a imprensa espanhola, a actriz que mais regularmente trabalhou com o cineasta e aquela que acompanhou não só os seus anos 1980/90 como também o trabalho do século XXI.

Nascida em Madrid, María Jesús Lampreave passava muito tempo em Almeria, de onde era o seu marido. Foi ali que morreu, no hospital Torrecárdenas, onde deu entrada esta madrugada. Fez cerca de 50 filmes na sua carreira, o que levou o ministro da Cultura espanhol Íñigo Méndez de Vigo a descrever a actriz como “parte da nossa vida”. Sobre a sua carreira, sempre se disse sem vocação: "Ser actriz, olha, é uma maravilha, mas nunca acreditei nisso".

Um rosto de Espanha, uma actriz que também pisou os palcos do teatro e entrou no televisor (recentemente tornara-se um fenómeno na publicidade) mas que seria sempre uma “chica Almodóvar” - foi porteira (três vezes), avó, tia e freira desviante nos elencos fogosos do realizador, que integrou em dez projectos diferentes. Com Almodóvar faria O que fiz eu para merecer isto? (1984), Matador (1986), Mulheres à Beira de um Ataque de Nervos (1988), Fala com Ela (2002), Voltar (2006, que deu ao elenco o prémio em Cannes) e Abraços Desfeitos (2009). Participou ainda em Pepi, Luci, Bom y otras chicas del montón (1980), Laberinto de Pasiones (1982), Negros Hábitos (1983) e A Flor do meu Segredo (1995). 

Chus Lampreave estudou Belas Artes e acabou por se estrear em televisão em 1958, tendo depois começado a fazer cinema. O seu trabalho acabou por levá-la à colaboração com alguns dos mais importantes realizadores espanhóis, como Trueba (El año de las luces, 1986, no oscarizado Belle Époque de 1992 e pelo qual recebeu o prémio Goya de Melhor Actriz Secundária, ou em El artista y la modelo, de 2012) ou Luis García Berlanga (na comédia ácida El Verdugo, de 1963, em El pisito e El cochecito ou na trilogia Nacional entre 1978-82) - participou em alguns dos filmes mais importantes da década de 1960 em Espanha, sob a sombra do franquismo e as dificuldades de manutenção do cinema independente.

 

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