Tiago Sousa ergue a sua barricada na ZDB

Um Piano nas Barricadas, o novo álbum do pianista, será apresentado esta quinta-feira na associação lisboeta. “A experiência estética é também uma experiência política”, disse-nos um dia. É para levar a sério.

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Tiago Sousa edita Um Piano nas Barricadas dez anos depois da estreia com Crepúsculo Vera Marmelo

O título é forte e deve ser levado a sério. Um Piano nas Barricadas, assim se intitula o novo álbum de Tiago Sousa, editado em Fevereiro e com apresentação marcada para esta quinta-feira, na Galeria Zé dos Bois, em Lisboa (22h, 8€). É música sem palavras, mas não precisamos delas quando as notas e os acordes tocados ao piano, quando a forma como estes se reúnem à guitarra, ao clarinete ou à harpa, são discurso marcado no som (e no que encontramos por trás da sua criação).

Um Piano nas Barricadas é, então, o novo álbum de Tiago Sousa, pianista que descobrimos há precisamente dez anos num disco, intitulado Crepúsculo, em que a melancolia se tornava força viva contaminada pela vida ela mesma (estava nos sons de rua caídos sobre a música), e em que a intuição de improvisador e a sensibilidade compenetrada de compositor erudito se reuniam num corpo só. Daí para cá, o músico barreirense tornou-se uma voz única e imprescindível do cenário musical português.

Com Insónia, Walden’s Pond Monk ou Samsara prosseguiu esse caminho sempre em aberto que tem sido marca do seu percurso. Procurou o estímulo da colaboração com outros músicos, fez-se músico que procurava respostas no refúgio da intimidade e músico que se assume como actor e tradutor do seu tempo.

Coro das Vontades, em 2012, produção para o Teatro Maria Matos, em Lisboa, foi representação dessa necessidade de questionamento e de acção em tempos de austeridade: “a minha maior preocupação está relacionada com a emancipação e ela só acontecerá quando as pessoas forem senhoras do seu destino”, dizia-nos então. Um ano, depois, quando editou o álbum em piano solo Samsara, afirmava: “o choque actual, socialmente, entre uma vontade de mudança e uma reacção muito grande para que ela não aconteça, representa um grande desafio. A música, narrativamente, intuitivamente, fala sobre isso”.

O novo álbum que apresentará na ZDB será sequência e consequência dessa afirmação de uma voz própria em ligação umbilical com a realidade social e política que o rodeia. Temo-lo em diálogo solitário com o piano, temo-lo, no mesmo piano ou no harmónio, acompanhado de Tó Trips (guitarra), de Ricardo Ribeiro (clarinete), Baltazar Molina (percussão) ou Rebecca Roth (harpa). “A experiência estética é também uma experiência política”, disse-nos um dia. Confirmemo-lo esta noite. Com ele estarão Angélica V Salvi, na harpa, Ricardo Ribeiro e Baltazar Molina a erguer uma barricada. O público a seu lado.

 

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