Morreu o Comandante Lassard dos filmes Academia de Polícia

George Gaynes tinha 98 anos e uma carreira feita sobretudo na comédia para cinema e televisão.

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George Gaynes como Eric Lassard DR

Arriscamos dizer que George Gaynes é um nome que a maioria de nós não conseguiria identificar de imediato como sendo de um actor, nem associar-lhe um rosto. Mas, se formos buscar a personagem que interpretou na saga Academia de Polícia, presença regular nas matinés de fim-de-semana na televisão portuguesa, é natural que muitos consigam lembrar-se de imediato de uma ou outra cena em que o distraído Comandante Eric Lassard, de atitudes inesperadas, toma conta da acção.

Gaynes morreu na segunda-feira, em North Bend, Washington, aos 98 anos. A notícia foi confirmada ao diário The New York Times  pela sua filha, Iya Gaynes Falcone Brown.

Com uma carreira longa – retirou-se apenas em 2003, sendo Casados de Fresco o seu último filme -, George Gaynes é também conhecido pelo seu papel em Punky Brewster, uma popular sitcom americana dos anos 80 que lhe trouxe grande notoriedade quando o actor tinha já 67 anos. Nesta série para a NBC, Gaynes é Henry Warnimont, o administrador de um condomínio que, ao encontrar uma menina abandonada num dos apartamentos vazios, se torna seu pai adoptivo. A relação entre os dois, com um cachorrinho à mistura, é o fio condutor desta sitcom sobre a qual, lembra o diário americano, disse o actor: “As duas coisas que um actor mais teme são crianças e cães. Nesta série tenho os dois.”

A década de 80 foi, aliás, muito produtiva para Gaynes, que nasceu na Finlândia como George Jongejans, em 1917. O actor, que começou por ser cantor de ópera antes de se dedicar ao cinema e à televisão, teve no filme Tootsie (1982), em que contracena com um Dustin Hoffman em versão feminina e transformado numa estrela de telenovela, um dos seus melhores papéis. Dois anos mais tarde estreava-se como Eric Lassard no primeiro de sete filmes de Academia de Polícia (o último foi em 1994).

O seu começo de carreira como cantor lírico (era barítono) deu-lhe, escreveram vários críticos, uma versatilidade invejável. Com uma infância e juventude passadas em França, Inglaterra e Suíça, Gaynes aterrou nos Estados Unidos depois da Segunda Guerra e juntou-se à Ópera de Nova Iorque, integrando diversas produções antes de começar a trabalhar na Broadway nos anos 1950, em espectáculos como Out of this World, de Cole Porter, e My Sister Eileen, com música de Leonard Bernstein.

Nas duas décadas seguintes, Gaynes fez carreira na televisão, participando em séries como The Defenders, Bonanza, Missão Impossível, Chicago Hope, Hogan's Heroes e The Six Million Dollar Man. A sua passagem pelo pequeno ecrã foi, aliás, duradoura e incluiu mais de 100 papéis em séries dramáticas e de comédia. A esse percurso recheado, devem juntar-se ainda os filmes, os musicais, óperas e operetas no EUA e na Europa.

Apesar de ser um rosto imediatamente reconhecível, Geroge Gaynes nunca atingiu o estrelato, escreve a revista especializada Variety, e considerou-se sempre mais um actor do que um cantor lírico.

O estrelato, ao que parece, não era coisa que o deslumbrasse, nem nos anos 80, em que ganhou grande notoriedade. Foi precisamente nessa altura em que, falando sobre o seu sucesso quando já tinha quase 70 anos, disse ao jornal The Times: “Já sou demasiado velho, já estou aqui há demasiado tempo para me entusiasmar com isso. É claro que fico feliz. A minha mulher está feliz porque podemos viajar mais e ela pode comprar uma nova capa para o sofá, mas conhecendo os caprichos do mundo do espectáculo, não posso levar [o sucesso] muito a sério.”

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