Morreu Abe Vigoda, o Sal Tessio de O Padrinho

Elogiado actor de composição, a sua carreira despontou no teatro e nos primórdios da televisão, mas seria com o filme de Coppola e com uma comédia televisiva que se tornaria conhecido.

Abe Vigoda em 2014
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Abe Vigoda em 2014 Andrew Kelly/REUTERS
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Abe Vigoda como Salvatore Tessio DR

O actor Abe Vigoda, reconhecido mundialmente pelo seu Sal Tessio em O Padrinho, morreu terça-feira em sua casa aos 94 anos. Um rosto característico, rugoso e expressivo com alguma melancolia, era um actor de composição também conhecido pela sua participação na série dos anos 1970/80 Barney Miller.

Vigoda morreu durante o sono na sua casa em Woodland Park, em Nova Jérsia, como confirmou a sua filha, Carol Vigoda Fuchs, à agência de notícias Associated Press. Fuchs frisou que o actor veterano faleceu de velhice porque, disse, “este homem nunca ficou doente”.

Se Francis Ford Coppola foi responsável por tornar Vigoda um nome mais conhecido ao escolher o actor para O Padrinho (1972), foi a série de televisão Barney Miller (1974-1982) que o tornou num rosto e numa figura popular nos EUA – o papel de mafioso no aclamado filme baseado no romance de Mario Puzo e o papel de um polícia desencantado a caminho da reforma na comédia televisiva retiraram Abe Vigoda de uma carreira de sucesso médio como actor secundário no teatro nova-iorquino e na televisão.

Sal Tessio era um amigo de longa data de Vito Corleone, ou Marlon Brando, o patriarca e líder da família em que se centra a saga de O Padrinho, e que planeia encabeçar a organização criminosa na sequência da morte planeada do filho de Vito, Michael Corleone – Al Pacino. O plano, escreve a história do cinema, não corre bem e Abe Vigoda profere as famosas últimas palavras: “Diz ao Mike que era só business”.

Robert Duvall, que interpretava o conselheiro de Corleone Tom Hagen, é quem recebe as palavras de Sal antes da execução da personagem e lembrava Vigoda terça-feira como alguém “cuja falta será sentida”. “Foi óptimo trabalhar com Abe em O Padrinho e maravilhoso tê-lo entre nós. Partilhávamos grandes memórias”, cita a AP.

Abe Vigoda nasceu em Nova Iorque em 1921 e estudou na Escola de Teatro e Artes Dramáticas do Carnegie Hall e durante três décadas fez carreira nos palcos – o seu papel preferido foi o de John de Gaunt em Ricardo III. Mas além de Shakespeare, interpretou Strindberg ou George Bernard Shaw, entre muitos outros textos de dramaturgos de referência.

“Quando eu era novo, disseram-me que o sucesso tinha de chegar na minha juventude. Descobri que isso era um mito. As minhas experiências ensinaram-me que se acreditarmos profundamente no que fazemos, o sucesso pode vir a qualquer idade”, disse Vigoda numa entrevista, citada pela AP.

Essas experiências levaram-no de palco em palco, de participação esporádica em participação esporádica em séries de televisão até conseguir comprar uma casa graças ao cinema e ao seu primeiro papel regular e emprego fixo – como Phil Fish em Barney Miller, um papel ao qual emprestou a sua veia cómica e que o tornou, não tendo o papel que dava o título à série, num dos maiores sucessos do título da CBS (daria mesmo origem a um spin off baseado na sua personagem, Fish). “A diferença é que posso comprar as coisas que nunca tive dinheiro para comprar. Nunca tinha tido uma casa, por isso agora gostaria de ter uma casa com um jardinzinho e uma piscina. Hollywood tem sido muito bondosa para mim”.

Hollywood, ou a imprensa que dela se alimenta, foi também pródiga em torná-lo numa anedota da cultura popular – a revista cor-de-rosa People escreveu em 1982, a propósito da festa de fim de Barney Miller, que o “falecido Abe Vigoda” não tinha estado presente, dando origem a uma série de notícias precoces sobre a sua morte. O seu sentido de humor permitiu-lhe brincar com o caso numa fotografia para a revista Variety em que posava com um caixão e com um exemplar da People e existia mesmo um site dedicado à confirmação do estado vital de Vigoda (isabevigodadead.com, perguntava a morada do site – até terça-feira, a página dizia apenas “No”). Outro factóide sobre o actor: a existência de uma banda punk com o seu nome.

O Padrinho, O Padrinho II, mas também Underworld (1996), Olha Quem Fala (1989) ou Joe Contra o Vulcão (1990) são algumas das suas participações mais conhecidas no cinema, tendo o seu mais recente trabalho sido em 2014, em Sweet Destiny. Aparecia frequentemente no programa de Conan O’Brien e trabalhou no dealbar da televisão nos EUA.

Notícia corrigida às 12h16: referência à intriga de O Padrinho tinha em falta a expressão “planeada"

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