“O preço da inovação em oncologia precisa de grande rigor”

Grupo de peritos defende que haja mais informação para decidir o que pagar pelos tratamentos e recomenda maior envolvimento dos cidadãos.

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Uma das ideias passa por criar uma linha autónoma para financiar o cancro João Guilherme

Transparência, rigor e envolvimento dos cidadãos. Estas são algumas das respostas-chave fundamentais para enfrentar os desafios que o cancro vai trazer à sociedade portuguesa até 2020. As conclusões, que serão apresentadas nesta terça-feira, são defendidas por um grupo de reflexão multidisciplinar, coordenado pela Escola Nacional de Saúde Pública (ENSP), no âmbito do projecto Think Tank Inovar Saúde 2015. O objectivo do grupo – que conta com médicos, gestores, investigadores, outros especialistas e doentes – foi perceber qual o caminho para responder aos desafios na área da oncologia.

Ana Escoval, professora da ENSP e coordenadora do grupo, diz ao PÚBLICO que é urgente chamar a sociedade para decidir o que fazer perante a necessidade de conter os custos públicos na área da saúde. “Não podemos perder tempo. É cada vez mais importante chamar os cidadãos a participar. É preciso perceber quanto é que as pessoas estão dispostas a pagar pela inovação dentro de um cenário de comportabilidade e em que há limites”, explica.

A investigadora reconhece que o caminho não é fácil e que a participação do cidadão é um tema recorrente mas muitas vezes pouco objectivo. “O primeiro passo é dar às pessoas informação mais transparente e em linguagem mais clara para que os doentes possam perceber quando podem beneficiar de uma terapêutica ou não”, exemplifica, insistindo que é preciso envolver as autarquias e acreditar mais nas associações de doentes para que possam desempenhar um papel útil.

“O financiamento é um problema grave e que é discutido no mundo inteiro”, acrescenta Ana Escoval, que avança que o grupo de peritos recomenda precisamente que as soluções orçamentais sejam pensadas mais em conjunto e com uma visão plurianual – criando-se eventualmente uma linha autónoma só para o cancro. Para o grupo da ENSP, é preciso pagar cada vez mais pelos tratamentos “com base em resultados” – como está a acontecer no caso da hepatite C –, mas sem esquecer que “o resultado em oncologia não é tão imediato e que no fundo o cancro é uma imensidão de doenças”. Apesar das dificuldades, a especialista defende que os doentes podem “circular de forma mais inteligente” no sistema, o que por si só traria melhores resultados e menos custos.

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