Thyssen aposta em Angola para superar descida das vendas em Portugal

Subsidiária da multinacional de elevadores apostou na internacionalização para contornar a crise. Contudo, nos últimos dez anos dispensou 150 trabalhadores portugueses.

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ThyssenKrupp é uma das maiores empresas de elevadores a operar em Portugal ROLAND WEIHRAUCH/AFP

A indústria dos elevadores é um barómetro da construção civil e, por isso, quando esta entrou em crise, a Thyssen Portugal foi a primeira a lançar-se no mercado angolano, sendo a única multinacional do sector ali presente.

Carlos Pinto, administrador da ThyssenKrupp Elevadores, diz que foi “uma aposta ganha”. No exercício fiscal de 2014/15 a sucursal angolana da Thyssen portuguesa conta naquele país com 140 trabalhadores e facturou 17 milhões de euros.

A par da internacionalização, a redução de efectivos em Portugal foi outra das medidas para contornar a crise. De 600 trabalhadores que a empresa tinha há dez anos, hoje tem cerca de 450. Mas Carlos Pinto ressalva que a Thyssen não foi reactiva e jogou na antecipação, tendo começado a negociar as rescisões logo em 2006, antes da paragem da construção civil (que ocorreria a partir de 2009). “Fizemo-lo em boa hora, em bom tempo e sem ser à bruta”, disse.

O mercado dos elevadores em Portugal é um oligopólio. Otis, Thyssen e Schindler repartem entre si cerca de 90% do negócio. Algumas pequenas empresas, por vezes, formadas por antigos empregados das três gigantes, asseguram o restante. Possuem carteiras de 100 a 150 clientes, valores que não se comparam aos 30 mil da Thyssen que, além de elevadores, assegura também a manutenção e assistência técnica de escadas rolantes. Um mercado recente, ao qual também se dedica, são as portas automáticas de prédios e garagens.

Se antes da crise o grosso da facturação provinha da venda e instalação de elevadores (normalmente importados das fábricas da Thyssen de Espanha e Alemanha), agora é a manutenção a grande responsável pelo volume de negócios de 38 milhões de euros que a empresa registou em Portugal.

Carlos Pinto diz que a empresa inovou no tipo de contratos de manutenção, que deixaram de ser tipificados e passaram a ser modulares, oferendo um maior leque de escolhas aos clientes. A caminho está também uma outra inovação – esta tecnológica – que consiste em instalar placas nos elevadores que transmitem para a “nuvem” informação sobre o funcionamento dos seus componentes, sendo possível antecipar avarias e prestar uma manutenção mais just in time.

Essa tecnologia, denominada Max e apresentada com grande pompa na Smart City Expo de Barcelona, já existe em Seattle, nos Estados Unidos e copia um conceito maduro no sector aeronáutico. Segundo Luís Ramos, director de comunicação da ThyssenKrupp, as primeiras caixas que recolhem informações dos elevadores deverão ser instaladas em 2016 em Portugal.

Uma das particularidades do mercado dos elevadores é a elevada dificuldade de cobrança. A maioria dos clientes são condomínios, entidades em que as pessoas não sentem o elevador como seu e onde muitas vezes há desentendimentos e falhas de pagamentos entre vizinhos. O lema da Thyssen, porém, é nunca falhar a manutenção periódica, mesmo quando as dívidas se vão acumulando meses a fio. Só em caso de avaria grave que exija peças mais caras é que o elevador fica parado até as dívidas serem saldadas.

Carlos Pinto diz que a sua quota de mercado será de 22 a 23%, mas reconhece que a percentagem poderá não ser rigorosa uma vez que não há partilha de informação entre as empresas. Estas, por sua vez, não se limitam a fazer manutenção aos seus próprios elevadores, sendo comum haver contratos com clientes que possuem equipamentos da concorrência. O único problema é que, quando é necessária uma peça, as marcas fazem-se pagar caras por ela.

O PÚBLICO esteve em Barcelona a convite da ThyssenKrupp

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