Livro O Puto vai ser adaptado para série de televisão

História do "Comandante Paulo", ex-comando português e operacional da rede bombista, foi contada em 1979, na África do Sul, ao jornalista Ricardo Saavedra.

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“Comandante Paulo” é o nome de guerra de Manuel Vicente da Cruz Gaspar Cortesia Quetzal
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Ricardo Saavedra Nuno Ferreira Santos

O livro O Puto, sobre a vida de Manuel Gaspar, ex-comando português, operacional da rede bombista e mercenário em Angola depois de 1975, vai ser adaptado para uma série de televisão, disse esta segunda-feira à Lusa o autor Ricardo Saavedra.

O Puto - Autópsia dos ventos da liberdade vai ter um argumento cinematográfico apoiado pelo Instituto do Cinema e do Audiovisual (ICA), que seleccionou o trabalho apresentado pela produtora Ukbar Filmes, de Pandora Cunha Telles e Pablo Iraola, no processo de candidaturas para Escrita e Desenvolvimento 2015. Os produtores propõem-se a produzir uma série audiovisual de ficção, de seis episódios, em formato HD.

“Fiquei satisfeito. É interessante, porque os produtores viram o livro, pensaram que daria um filme ou uma série. Ficaram muito entusiasmados e convidaram-me para coordenar os argumentistas”, disse à Lusa Ricardo Saavedra.

O jornalista revelou pela primeira vez no livro O Puto a longa entrevista ao “Comandante Paulo”, operacional da rede bombista – gravada em 1979, na África do Sul –, e que relata os acontecimentos “de quem lutou contra a revolução portuguesa”.

Manuel Gaspar, nascido em Moçambique, conhecido como “Comandante Paulo”, foi também apelidado de “Puto” pelo antigo oficial dos Comandos portugueses Jaime Neves, com quem cumpriu serviço militar durante a Guerra Colonial.

O trabalho jornalístico de Ricardo Saavedra, através da entrevista ao “Comandante Paulo”, percorre acontecimentos relevantes e muitas vezes inéditos do período a seguir ao 25 de Abril de 1974, através da visão de um homem que lutou com bombas e de armas na mão contra a revolução, em Portugal e em África.

Envolvido no levantamento dos colonos brancos de 7 de Setembro em Moçambique, em 1974, e mais tarde capturado pela Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo) e enviado para um campo de reeducação de onde escapou, “Paulo” revela-se desde sempre contra o comunismo e a influência da União Soviética e de Cuba junto dos movimentos de libertação nas antigas províncias ultramarinas portuguesas.

Típico personagem da Guerra Fria, “Paulo” combateu em Angola, onde integrou o braço armado da Frente Nacional de Libertação de Angola (FNLA), de Holden Roberto, no princípio da guerra civil. A guerra do “Comandante Paulo” passa pelos combates em Angola, onde foi três vezes ferido, sobretudo em Sá da Bandeira (Huíla) e Moçâmedes (Namibe).

A longa entrevista publicada em livro destaca os ataques a civis que provocam escaramuças violentas com a UNITA (União Nacional para a Independência Total de Angola), a progressão das forças sul-africanas em direcção a Luanda, confrontos com as Forças Armadas Populares de Libertação de Angola (FAPLA) e a retirada dos colonos do sul de Angola em direcção à Namíbia, através do deserto, e que antecede o regresso à “pátria madrasta”. Logo a seguir, verificam-se contactos com o Exército de Libertação de Portugal (ELP) e o Movimento Democrático de Libertação de Portugal (MDLP).

O “Comandante Paulo” esteve ainda envolvido no atentado que matou o padre Max em 1976, em Vila Real, e outras acções contra a embaixada de Cuba, a torre do radar do aeroporto da Portela, a Associação Portugal-Moçambique, a Casa de Angola, tudo em Lisboa; mas também o roubo de armas do paiol do Regimento de Artilharia Ligeira 4, em Leiria, o lançamento de uma granada contra o cortejo da campanha presidencial de Ramalho Eanes e vários atentados contra sedes do PCP.

Evadido em 1978 da Prisão de Alcoentre na operação Grande Evasão, de onde fugiram 131 reclusos, "Paulo" acabou por refugiar-se na África do Sul, onde passa a integrar o famoso Batalhão 32, também conhecido por Batalhão "Búfalo", do Exército de Pretória, e que integrava portugueses tendo combatido em Angola durante os anos 1980.

O autor do livro, que foi lançado em Outubro de 2014, revela ainda que os documentos do processo judicial do “Comandante Paulo” só podem ser consultados a partir de 2029, caso “não tenham desaparecido”.

O “Puto” tem actualmente 60 anos, mas sobre o actual paradeiro do ex-comando nada é revelado.

 

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