A beleza do CS Lebowski é a sua simplicidade

A inspiração vem do filme dos irmãos Coen e, tal como a personagem celebrizada por Jeff Bridges, só querem um tapete.

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A claque do CS Lebowski habita a curva Moana Pozzi DR
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Jeff Bridges e John Goodman no filme "O Grande Lebowski" DR

Tudo começa com um tapete que compunha bem a sala. Um par de gangsters a cobrar uma dívida ao tipo errado e um deles a urinar no tapete. Também há niilistas, o amor aos Creedence Clearwater Revival, o ódio aos Eagles, a guerra do Vietname, a guerra do Golfo, planos simples, um cowboy, bowling e produtos herbais que alteram o estado mental. Tudo isto (e mais) fazia parte da “intriga” de “O Grande Lebowski” (1998), o filme dos irmãos Coen que se tornou num culto que ultrapassou os limites do tempo e da geografia. Esta é a história de um Lebowski que não tem nada a ver com bowling, mas sim com o desporto mais popular do mundo que se pratica com um objecto redondo.

O Centro Storico Lebowski não é um clube de bowling, mas um clube de futebol de Florença, formado por dissidentes da Fiorentina (actual líder da Série A), que evoluiu a partir de uma primeira encarnação chamada AS Lebowski, que nunca saia do último lugar. Numa história de origem em tudo semelhante ao do FC United of Manchester, os adeptos avançaram para a criação de um clube novo porque não gostavam da forma como a componente negócio estava a tomar conta do futebol.

Longe dos escândalos de corrupção e das falências que têm afectado alguns dos grandes clubes da Série A, o CS Lebowski é, literalmente, um clube dos sócios. E, à sua escala, um exemplo de sucesso. Em cinco anos, o clube florentino subiu dois escalões, o que significa que estão na sétima divisão, já não muito longe de chegar às competições profissionais. Na presente temporada, segue em terceiro lugar, com 15 pontos em nove jornadas, a oito do primeiro classificado.

Mas este é um sucesso que não tem origem em maior capacidade financeira derivada de patrocinadores ou transmissões televisivas. O CS Lebowski vive das contribuições dos sócios, que são simultaneamente donos do clube, e da recolha de fundos através da organização de festas e outros eventos, contando ainda com o apoio de pequenos patrocínios locais para compor o orçamento que ronda os 70 mil euros por ano e que suporta um total de quatro equipas, entre elas uma júnior e uma feminina.

Ao CS Lebowski falta um estádio fixo. O campo em que jogam, o San Donnino, é o terceiro que ocupam em cinco anos, e custa ao clube 10 mil euros por época. Mas seja em que estádio for, a equipa terá sempre o apoio fiel e ruidoso dos seus adeptos que ocupam a curva Moana Pozzi, uma antiga actriz porno italiana. Até neste detalhe os CS Lebowski evocam a sua inspiração no “Dude” — Bunny, a actriz porno que era a mulher do “outro” Jeff Lebowski. E como o “Dude”, o clube não quer muito, só quer o seu tapete, ou melhor, um campo permanente para continuar a promover um futebol puro e não adulterado. A beleza deste plano do Centro Storico Lebowski é a sua simplicidade.

* Planisférico é uma rubrica semanal sobre histórias de futebol e campeonatos periféricos

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