Novo catálogo de Francis Bacon inclui mais de 100 "inéditos"

Volume lançado em Abril dá acesso a muitas obras "escondidas" do artista. E defende que o sexo teve menos peso na sua obra do que até aqui se pensava.

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Em 2013, o tríptico Três estudos de Lucian Freud , de Francis Bacon, tornou-se a obra de arte mais cara de sempre a ser vendida em leilão: 106 milhões de libras Shannon Stapleton/Reuters

O projecto tem já dez anos e ficará concluído em Abril, quando for lançado o novo catálogo raisonné dedicado ao artista britânico nascido na Irlanda, conhecido pelas suas pinturas de figuras detorcidas que por hábito atingem somas astronómicas em leilão.

Falamos de Francis Bacon (1909-1992) e de uma ambiciosa edição a cargo da equipa que gere o seu legado. Um legado que é infinitamente menor do que poderia ter sido, já que o pintor, lembra o diário britânico The Guardian, destruiu muitas das suas obras: terão sobrevivido 584 e, dessas, apenas metade está acessível ao público ou em circulação. Uma das que tem permanecido “escondida” e que está entre as mais de 100 "inéditas" que constarão do novo volume que chega às livrarias na Primavera para coincidir com o aniversário da morte do artista é a primeira pintura de uma das suas séries mais provocadoras, Screaming Popes, e faz parte de uma colecção privada italiana.

Esta série, que hoje é vista como uma poderosa expressão do horror no pós-guerra, nasceu da obsessão de Bacon por um retrato de Velázquez (século XVII), o do Papa Inocêncio X.

Martin Harrison, o historiador de arte que passou a última década à procura de obras “perdidas” de Bacon pela Europa, Estados Unidos, Austrália e Japão, acredita que o raisonné permitirá fazer um retrato mais fiel da produção deste artista, já que o muito que sobre ele se escreveu até aqui se baseia, na realidade, em cerca de um terço do seu trabalho. “[Este catálogo] terá, achamos, um impacto profundo na percepção das suas pinturas.” E dará acesso a obras que pertencem a coleccionadores que têm pouco ou nenhum interesse em mostrá-las.

Uma das revelações desta nova publicação diz respeito à presença do sexo no corpo de trabalhos de Francis Bacon. Muitos são os que defendem que boa parte dele – talvez mesmo a melhor – decorre das suas relações com outros homens, em especial com Peter Lacy, um piloto violento com uma forte dependência do álcool, e com George Dyer, que o artista ficou a conhecer quando este homem muito mais jovem e de origens humildes lhe assaltou o apartamento em meados da década de 1960. Harrison vem agora demonstrar que apenas em 11 das pinturas que sobreviveram há homens a fazer sexo.

O novo catálogo, uma edição da Heni Publishing em cinco volumes e com um preço de capa de mil libras (1600 euros), vem substituir o que fora publicado em 1964, a meio da carreira do artista, pelo então director da Tate e pelo seu adjunto, que tiveram de enfrentar um Bacon “difícil”, que parecia preferir que o catálogo com apenas 27 pinturas não chegasse às livrarias. Harrison não teve esse problema.

 

 

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