A crise do macho europeu

Um filme modesto mas certeiro sobre um tipo normal que não sabe para onde vai.

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Não se passa, verdadeiramente, nada de especial em Da Natureza – e é esse o seu trunfo. A segunda longa do norueguês Ole Giæver acompanha um fim-de-semana na vida de um tipo perfeitamente normal, empregado, casado, com um filho pequeno, mas perfeitamente frustrado até à quinta casa: Martin sente-se entalado e pergunta-se para onde foi a vida com que sonhou, se é isto que a sua vida vai ser até ao fim. É no dispositivo que Giæver escolhe que se ganha o filme: o realizador deixa a câmara nas mãos da sua co-realizadora Marte Vold para interpretar ele próprio este tipo normal que se questiona durante uma caminhada na natureza, praticando um exercício dialéctico entre as imagens do que ele vive e a voz off constante que partilha com o espectador o que ele pensa. O resultado é um filme modesto mas desarmantemente certeiro, que quer mais levantar perguntas do que dar respostas e funciona como um ponto de situação do macho europeu contemporâneo. É um projecto tão fora do normal que se torna automaticamente simpático, mas que tem mais na cabeça do que a aparência dá a entender.

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