Alain Delon, o sedutor arrogante já tem 80 anos

Já retirado, o actor permanece uma das grandes referências do cinema europeu. O seu talento e beleza atraíram realizadores como Melville, Visconti e Antonioni. “Bom aniversário, meu Alain. Amo-te 80 vezes”, disse-lhe Brigitte Bardot.

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O Sol por Testemunha DR
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A Piscina DR
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Um Homem na Sombra DR
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O Leopardo DR
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Rocco e Seus Irmãos DR
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Com Brigitte Bardot DR

Actor francês com uma extensa filmografia e uma vida privada agitada, Alain Delon, que este domingo festeja 80 anos, tornou-se um mito mundial graças a um carisma raro e a uma beleza insolente.

Em 50 anos de carreira, participou em mais de 90 filmes, alguns considerados pela crítica como grandes obras da sétima arte. "Fui programado para o sucesso, não para a felicidade. Os dois não combinam", disse a estrela do cinema europeu, que foi dirigido por grandes realizadores como Melville, Visconti, Antonioni, Losey, Godard e Malle.

Igualmente produtor de cerca de 30 longas-metragens, empresário e coleccionador de arte, de relógios de armas e de vinhos, o actor, que muitos classificaram como “magnético”, diz-se cansado dos holofotes que o impediram de viver uma vida como toda a gente.

Sedutor arrogante e incurável, Delon é – sempre foi – um homem de mulheres: "É nelas, no olhar da minha primeira mulher, Nathalie, até no de Romy [Schneider], de Mireille [Darc] ou no da mãe dos meus filhos [Rosalie van Breemen], que eu consigo a motivação para ser o que sou, para fazer o que faço."

Indiferente às controvérsias sobre a alteração da sua imagem, nunca escondeu as suas ligações ao ex-líder da extrema-direita francesa Jean-Marie Le Pen, "um amigo há 50 anos".

Cara de anjo e olhos azuis
Nascido a 8 de Novembro de 1935, perto de Paris, Alain Delon teve uma infância instável depois do divórcio dos pais, seguido de quatro anos da Guerra da Indochina, que cumpriu nos fuzileiros.

Em 1957, estreia-se em Uma tal Condessa, d'Yves Allégret. O seu físico – "cara de anjo" e olhos azuis – chamam a atenção. Rapidamente passa a interpretar papéis maiores.

O primeiro grande papel de Delon foi como Tom Ripley no clássico de suspense O Sol por Testemunha (1959). No ano seguinte, trabalhou com o realizador italiano Luchino Visconti, que faria dele um dos seus actores fétiche, no filme Rocco e os seus Irmãos. Os dois tornaram-se amigos e juntos fizeram outro clássico, O Leopardo (1963), que arrematou a Palma de Ouro do Festival de Cannes.

No teatro surge em Dommage qu'elle soit une putain, em cena por Visconti. A seu lado estava Romy Schneider e a partir daí dá início a uma longa relação com a então jovem actriz. Dentro e fora do palco e da tela (A Piscina, de Jacques Deray, 1969).

Com O Assassinato de Trotsky e Um Homem na Sombra, de Joseph Losey, Delon desempenhou papéis que "quebraram" a sua imagem de sedutor.

Cannes e nostalgia
Excluindo uma breve passagem por Hollywood, em Soleil Rouge, de Terence Young, Delon continuará a filmar apenas em França e Itália. E a lista dos seus sucessos é longa: Les Granges brûlées, Le Gitan, Parole de flic, O Samurai... Borsalino, de Jacques Deray, oportunidade de ouro de contracenar no grande ecrã com outro actor icónico do cinema francês, Jean-Paul Belmondo, transforma-se num dos seus maiores triunfos.

Mas, apesar de uma carreira de grandes papéis – e diversificados – em filmes que ficarão para a história do cinema universal, como O Leopardo, e de um César pelo seu desempenho em Notre Histoire (1984), de Bertrand Blier, Alain Delon nunca levou para casa o principal prémio de interpretação masculina da grande montra francesa da sétima arte – o Festival de Cannes.

Enquanto realizador, fez Pour la peau d'un flic (1980) e Le Battant (1983). Nostálgico em relação à idade de ouro do cinema, nos anos 1960, viu a sua carreira entrar em declínio na década de 1980 e anunciou que se iria afastar em 1999.

Entretanto participou em duas mini-séries de televisão e surgiu, em 2007, em Sur la Route de Madison, ao lado de Mireille Darc, sua ex-companheira que continuou a ser uma das suas amigas mais próximas.

Em 2008, interpretou também Júlio César no cinema em Asterix nos Jogos Olímpicos.

"Amo-te 80 vezes"
“Bom aniversário, meu Alain. Amo-te 80 vezes”, disse a propósito do seu aniversário a actriz francesa Brigitte Bardot, outro dos mitos do cinema francês, que com ele fez dois filmes. Numa mensagem manuscrita enviada à agência de notícias France Press, Bardot, sua amiga, diz ainda: “Tu és o símbolo vivo de uma obra-prima que a França produziu durante este século que atravessámos juntos (…) Tu trazes em ti a beleza, a coragem, a elegância, o poder que fizeram de ti uma imensa estrela internacional, jamais igualada, jamais substituída.”

No ano passado, numa conversa com o jornal Le Parisien, Bardot falara já da enorme amizade entre os dois e do facto de, apesar de muito próximos, nunca se terem apaixonado: “Ele é como um irmão”, confidenciava.

A proximidade do dia do seu aniversário multiplicou na última semana nos jornais e revistas, mas também nas redes sociais e noutros media online, os elogios e os superlativos em relação ao actor e à sua importância para a história do cinema. A sua beleza, essa, nunca fica por referir: “lenda viva”, “beleza selvagem”, “ideal masculino”, “sedutor arrogante” foram algumas das expressões usadas para o evocar.

Longe das câmaras, Alain Delon vive hoje a 100 quilómetros a sul de Paris. Na sua propriedade de muros altos, diz a AFP, mandou construir uma capela. É lá que quer ser sepultado.

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