PT lança nova tecnologia para disputar segmento empresarial

Empresa da Altice quer alargar cobertura de fibra e ser mais agressiva na disputa do segmento empresarial onde a NOS tem vindo a ganhar terreno no último ano.

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PT diz que investimentos em fibra vão dar trabalho a duas mil pessoas Daniel Rocha

As receitas da PT Portugal mantêm-se em queda há meses e foram vários os clientes empresariais, entre eles grandes contas como a Caixa Geral de Depósito e o Montepio, que deixaram a empresa e entregaram os seus serviços de telecomunicações à NOS.

É numa nova solução tecnológica desenvolvida pela PT Inovação que a empresa que agora pertence à Altice vai apostar as suas fichas para recuperar clientes e aumentar ganhos no segmento empresarial.

Um mercado que a NOS (joint-venture da Sonae e de Isabel dos Santos) considera estratégico e onde tem vindo progressivamente a ganhar terreno, mas no qual a PT recusa perder a liderança. O presidente da PT Portugal, Paulo Neves, anunciou esta quinta-feira que a empresa quer alargar a cobertura da sua rede de fibra óptica, das 2,3 milhões de casas actuais, para um total de 5,3 milhões de casas e empresas em 2020 (para 2017, o objectivo passa por chegar a 3,5 milhões de casas).

Quanto custará e como será financiado este plano ambicioso é algo que ficou por saber, apesar da insistência da comunicação social: “O valor do investimento não é relevante, será o que for preciso”, afirmou o gestor no final da apresentação.

O certo é que a estratégia tem como “eixo central” a solução da PT Inovação assente em tecnologia NG-PON2, que permitirá a evolução da rede actual (G-PON). “A aposta estratégica [da PT Portugal] no segmento empresarial no próximo ano” tem aqui o seu grande trunfo, confirmou ao PÚBLICO o administrador com o pelouro da área tecnológica, Alexandre Fonseca.

Com esta tecnologia, que “traz as vantagens da fibra dedicada” (uma linha, para um cliente), como a maior largura de banda e a possibilidade de velocidades semelhantes e maiores quer no download, quer no upload de dados, a um maior número de clientes (entre 128 a 256 clientes no mesmo cabo de fibra), “reduzem-se significativamente os custos de acesso”.

Na prática, significa mais e melhores e serviços por um preço mais baixo, assegurou o administrador da PT. Esta “democratização” no acesso a maiores débitos às pequenas e médias empresas será potenciada pela expansão da rede de fibra. “Vamos chegar às micro, pequenas e médias empresas em todo o país que até agora não conseguiam ter este tipo de serviços”, disse Alexandre Fonseca.

A nova oferta, que será lançada comercialmente no primeiro trimestre de 2016, “tem como alvo preferencial o segmento empresarial”, já que genericamente as suas características excedem as necessidades do mercado residencial. A actual rede G-PON oferece 2,5 Gbps no download e 1,25 Gbps no upload. Com a evolução da rede para a NG-PON2 já é possível disponibilizar acessos a 40 Gbps nos dois sentidos, e no início de 2016 prevê-se que possa ser alargado para os 80 Gbps. A PT garante que a evolução da rede não obrigará à instalação de novos cabos e que “é à prova de futuro”, pois permitirá acompanhar os desenvolvimentos mundiais das redes de fibra nos próximos anos. Para já, a nova tecnologia garantirá às empresas melhores condições na utilização das aplicações de vídeo e de serviços "na nuvem" e no acesso a data centers, por exemplo.

Esta solução desenvolvida pelos engenheiros portugueses e com equipamentos desenvolvidos em fábricas portuguesas poderá ser exportada para as várias empresas do grupo Altice e vendida a outros operadores, adiantou Paulo Neves. “A PT está cá de pedra e cal” e vai continuar a contribuir para o investimento e o emprego no país, assegurou o gestor. Como exemplo, sublinhou que o esforço da empresa para fazer a “fibragem” de 50 mil casas por mês nos próximos cinco anos envolverá duas mil pessoas.

As receitas da PT Portugal caíram 9,4% no terceiro trimestre, para 579 milhões de euros, pressionado precisamente pelo segmento empresarial, onde houve uma queda de 9%. "Já não estamos a perder grandes clientes empresariais e o segmento vai estabilizar nos próximos trimestres", assegurou o presidente executivo da Altice, Dexter Goei, na conferência telefónica com analistas que se seguiu à divulgação de contas, na semana passada.

“Só há um operador em Portugal que ganha quota: é a NOS”, disse por sua vez Miguel Almeida, que falava num jantar debate da APDC, no começo de Outubro. O presidente da NOS garantiu que os serviços empresariais cresceram “10% no último ano”, em contraciclo com a tendência do mercado. Nas contas trimestrais, divulgadas na quarta-feira, a empresa destacou que “continua a incrementar o seu desempenho [no segmento empresarial], com o número de serviços a aumentar 17,2% (54 mil) para 1,225 milhões”. As receitas da NOS subiram 5,8% para 367,9 milhões de euros, enquanto o lucro aumentou 40%, para 26,2 milhões de euros.

Segundo a Anacom,a quota de mercado da NOS em receitas estava nos 29,2% no final do segundo trimestre, próximo dos 30% que no ano passado a empresa se propôs alcançar em cinco anos. A liderança continua a caber ao MEO, que tinha uma quota de 43,8%. Já a Vodafone, que apresenta resultados na próxima semana, tinha 23% das receitas do sector.

À margem da apresentação, Paulo Neves adiantou que o acordo de partilha de rede de fibra com a Vodafone (assinado em Julho do ano passado) ficou concluído, permitindo às duas empresas chegarem a mais 900 mil casas (450 mil, cada), mas não terá continuidade. O novo investimento na expansão da rede caberá exclusivamente à PT Portugal, disse o gestor.

 

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