Está na hora do Centrão

Chega de jogos políticos. Temos que nos entender. Chegou a hora do Centrão.

Muitas interpretações têm sido dadas aos resultados eleitorais do passado dia 4 de Outubro, sendo que discordo da maioria.

Não vejo uma rejeição da maioria vencedora nem vejo uma vontade expressa de à esquerda volver. Aquilo que eu retirei do sufrágio universal foi que 80% dos Portugueses votaram de forma inequívoca por um consenso ao centro do espetro político.

Mais de 2/3 dos eleitores expressaram a firme convicção no projeto europeu, no Euro e nas nossas colaborações internacionais, como é o caso da NATO.

Mas acima de tudo vejo um grito de revolta de todos aqueles que suportam o funcionamento das instituições do Estado por via dos seus impostos e que têm assistido à incapacidade de entendimento entre os partidos europeístas – entenda-se PSD, PS e CDS – nas questões fundamentais para o país. Em concreto, há um sentimento de frustração coletiva por não termos sido capazes de apresentar consensos para áreas fundamentais como a segurança social, educação, saúde e defesa.

Por via do meu trabalho fora do país, tenho dialogado ao longo deste último mês com políticos, empresários e académicos estrangeiros, e com a comunidade portuguesa além-fronteiras. Todos sem exceção revelam uma profunda preocupação com a crise política que estamos a atravessar e temem que a nossa imagem positiva, a trajetória de crescimento da nossa economia e o sentimento de confiança que existia em relação a Portugal sejam brutalmente comprometidas com consequências imprevisíveis para todos.

Infelizmente, para quem olha de fora para dentro de Portugal, a imagem de um país estável e promissor – conquistada com suor e lágrimas dos portugueses ao longo dos anos de assistência financeira internacional - está profundamente prejudicada pelo ambiente de enorme incerteza gerado e pela simples ideia de que partidos antieuropeístas poderão vir a assumir funções de governação no nosso país.

Na realidade, há muitos e importantes pontos de contactos entre o programa dos partidos da atual maioria PSD/CDS e do Partido Socialista. Mas acima de tudo há dirigentes em todos estes partidos que têm a genuína vontade de encontrar consensos que possam assegurar uma estabilidade governativa para o país. Este grupo relevante de políticos acredita na importância de estabelecermos um caminho de partilha de responsabilidades na governação para assim assegurarmos a sustentabilidade das reformas a implementar.

É neste grupo de políticos que eu me insiro. Sem abdicarmos das nossas orientações ideológicas ou dos nossos valores podemos trilhar um caminho de entendimentos ao centro que assegurem o crescimento sustentável da nossa economia, gerando os tão necessários empregos enquanto garantimos uma melhoria progressiva das nossas políticas sociais.

Os desafios que enfrentamos são enormes e há reconhecidamente feridas por sarar dos difíceis anos de intervenção da Troika. Há ainda importantes iniquidades na nossa sociedade – sejam regionais, demográficas ou sociais – que clamam por respostas inovadoras, consistentes e assentes nas melhores evidências e práticas. Sem experimentalismos e em estrito respeito pela vontade popular temos o dever de encontrar essas respostas e de construirmos, em conjunto com a sociedade civil, um caminho futuro para Portugal.

Por tudo isto, os portugueses legitimamente exigem que todos os protagonistas dos nossos partidos europeístas – PSD, PS e CDS - tenham sentido de Estado e não abandonem o superior interesse do país.

Chega de jogos políticos. Temos que nos entender. Chegou a hora do Centrão.

Médico, Professor Universitário e Deputado do PSD

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