Rosa Mota e Fernando Gomes, dois ícones do desporto sobem ao palco do Rivoli

Atleta campeã olímpica da maratona e futebolista campeão europeu do FC Porto inspiram espectáculo produzido pelo Teatro Municipal do Porto, com estreia no Rivoli a 13 de Novembro.

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Rosa Mota e Fernando Gomes junto dos encenadores Pedro Penin e Miguel Loureiro DR

Os percursos desportivos de Rosa Mota e Fernando Gomes, duas figuras da cidade que se destacaram no atletismo olímpico e no futebol europeu, estão na base de Ícones do Desporto, dois espectáculos que estão a ser produzidos pelo Teatro Municipal do Porto (TMP) e que têm estreia marcada para o dia 13 de Novembro, no Rivoli.

A ideia de levar para o palco dois ícones do desporto é do vereador da Cultura da Câmara do Porto, Paulo Cunha e Silva, e o desafio de criar um espectáculo desportivo-teatral particular foi lançado há alguns meses pelo director do TMP, Tiago Guedes, aos encenadores Pedro Penim e Miguel Loureiro.

Penim é o responsável pelo espectáculo que vai centrar-se na figura da campeã olímpia da maratona. Já Miguel Loureiro vai tentar retratar os anos de glória do campeão europeu de futebol. Rosa e Fernando serão as estrelas do Rivoli por duas noites (13 e 14 de Novembro), mas a sua presença em palco será curta.

Miguel Loureiro convidou as actrizes Ana Bustorff e Sara Graça para trabalhar consigo neste projecto, e nos próximos dias Fernando Gomes junta-se à equipa para começar a ensaiar a sua participação. Segundo o encenador, o espectáculo começa com “a formulação de uma série de dados biográficos que serão trabalhados de forma ficcional” por si próprio e pelas duas actrizes. O ex-jogador do FC Porto deve aparecer só na parte final da acção, que irá destacar os dois momentos que o projectaram para o estrelato conquistando por duas vezes a Bota de Ouro.

Do alinhamento consta ainda um vídeo a relembrar a carreira o ex-capitão do FC Porto, onde entrou para a equipa principal com apenas 17 anos.

O desafio feito pelo director do TMP a Pedro Penim levou-o à cidade grega de Maratona, para reviver o momento chave da carreira de Rosa Mota, em 1982, quando venceu a maratona de Atenas. “É uma prova com um grande simbolismo, porque foi a primeira maratona feminina que decorreu em Atenas durante o Campeonato Europeu de Atletismo”, diz o encenador. Foi também a primeira maratona em que Rosa Mota participou, e, embora não fizesse parte do lote das favoritas, bateu facilmente Ingrid Kristiansen, conquistando assim a sua primeira vitória nesta prova. Do seu currículo fazem parte muitas outras conquistas, nomeadamente a medalha de bronze na primeira maratona olímpica em Los Angeles, em 1984; dois anos mais tarde, foi campeã da Europa e, em 1987, consagrou-se campeã mundial em Roma.

É esta carreira que Pedro Penim vai tentar recriar em palco. A acção — antecipa o encenador — “andará à volta da reconstituição da vitória na maratona em Atenas, que é um momento muito importante, mas ao mesmo tempo é uma reflexão sobre como é que se faz um espectáculo que tem dois lados: um, biográfico — é a pessoa que está a ser homenageada —, outro, mais teatral”.

Fábrica do Corpo Humano
Paulo Cunha e Silva explica que a ideia de conceber um espectáculo destes vem na sequência de um projecto que desenvolveu na Porto 2001 - Capital Europeia da Cultura, que se chamava Fábrica do Corpo Humano. “O desporto sempre foi central na actividade cultural da cidade. A ideia começou a surgir desta forma, e foi nesse sentido que falei com o director do Teatro Municipal do Porto, a quem disse: ‘Gostava que encontrasses encenadores que desenvolvessem um trabalho que desse importância à icnografia desportiva da cidade, nomeadamente à maratona e ao futebol’”, revela o vereador da Cultura.

Sublinhando que o futebol e a maratona “são os dois grandes territórios do desporto”, Paulo Cunha e Silva explica ao PÚBLICO que a ideia de criar um espectáculo com este perfil “prende-se também com a circunstância de o Rivoli ser, por excelência, o palco do teatro da cidade e, por outro lado, com a circunstância de a cidade se identificar com a sua iconografia desportiva, nomeadamente no atletismo e no futebol”.

Pouco habituado aos palcos dos teatros, Fernando Gomes confessa que ficou surpreendido quando Rosa Mota lhe falou do desafio, mas agora diz que já se habituou à ideia de ser actor por alguns momentos. “Não é normal esta ligação e no início fiquei um pouco na expectativa, mas depois fui conversando com o Miguel Loureiro e com o director do TMP, e as conversas ajudaram-me a digeriu a ideia”, diz o ex-futebolista. E acrescenta ter entendido o desafio a alguém que, como ele, é “um dos rostos do FC Porto” para colaborar nesta iniciativa como “uma homenagem a todos aqueles que projectam lá fora o nome da cidade”.

“No futebol, sou um dos maiores, se não o maior, representante da cidade e do país. Dei, como se sabe, prestígio à cidade e a Portugal pelos êxitos que alcancei a nível nacional e internacional”, sublinha o ex-capitão do FC Porto, que reparte o palco da glória com a campeã olímpica da maratona. “A Rosa Mota é, de facto, uma campeã mundial na verdadeira acepção da palavra”, diz, enaltecendo o “carinho especial” que tem por ela. “Somos da mesma geração, crescemos mais ou menos juntos e temos percursos paralelos. Eu era campeão, era quem marcava mais golos, razões fortes para poder representar em palco”, nota, com orgulho, este portuense nascido em Campanhã e dono de um currículo invejável. Em 455 jogos só no FC Porto, clube onde jogou doze anos (entre 1974-80 e, mais tarde, entre 1983-89) e marcou 374 golos. Nesta contabilidade não entram os que marcou ao serviço do Sporting, do espanhol Sporting de Gijon e também da selecção nacional.

Catorze anos depois, Rosa Mota volta a estar debaixo dos holofotes, no Rivoli. Em 2001, também pela mão de Paulo Cunha e Silva, a maratonista subiu ao palco do agora Teatro Municipal do Porto para correr num tapete. Desta vez é diferente, reconhece, mas vai dizendo que a sua participação em palco será curta. “É uma honra que a Câmara do Porto decida homenagear-me — é também uma honra para o desporto”, declara, congratulando-se pelo facto de o palco ser repartido com Fernando Gomes, de quem se tornou amiga. E, numa tentativa de baixar expectativas em relação ao espectáculo, deixa uma mensagem: “Quero dizer que não sou actriz, não quero ser e que tenho muito respeito por eles”. 

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