Diabetes: de que estamos à espera?

Estamos a poucos dias das eleições e nenhum dos programas eleitorais contempla propostas alusivas ao papel regulador e determinante do Estado face aos interesses da indústria alimentar que contribuem para o aumento, cada vez mais precoce, de doenças como a diabetes, a obesidade, o cancro ou a aterosclerose.

Vários estudos, especialistas e entidades na área da saúde e da nutrição têm sistematicamente vindo a comprovar a eficácia da alimentação saudável na prevenção dessas doenças.

Poucos saberão que existe uma Secretaria de Estado da Alimentação e que não está na dependência do Ministério da Saúde. Mas todos conhecem o monopólio de ofertas existentes no mercado dos refrigerantes, dos doces, da fast-food, da comida processada e industrializada. Da propaganda manipuladora e muitas vezes falsa, que propagam todos os dias.

Trata-se de um lóbi poderosíssimo que há que enfrentar com coragem. Esperar que os industriais da alimentação se auto-regulem é claramente deixar nas suas mãos a inércia que se tem vindo a registar, com os resultados conhecidos.

Uma resolução aprovada, recentemente, por unanimidade na Assembleia da República e que reforça as medidas de prevenção, controlo e tratamento da diabetes é, sem dúvida, muito importante. Recomenda, entre outras medidas, “que o Estado aprove legislação que desincentive o consumo de refeições, lanches, alimentos e bebidas pobres em nutrientes e com elevado teor de açúcar, de gorduras saturadas ou de sódio, e sejam principalmente destinados a menores de idade”.

É fundamental uma ação reguladora do Estado em que este se coloca ao lado do cidadão atuando no seu melhor interesse, garantindo reformas que visem a participação das pessoas na gestão quotidiana da sua saúde e facilitando uma escolha saudável e informada. Insistir na rotulagem (nomeadamente em alertas nos produtos com adição de açúcares), reduzir o conteúdo de gordura hidrogenada nos alimentos e educar através das escolas, unidades de saúde e autarquias são três exemplos de estratégias certamente mais eficazes para a saúde do que a prescrição de medicamentos para doenças já instaladas. Se a educação for considerada terapêutica, deveria ser implementada como a principal das medidas de prevenção das doenças crónicas e como tal atribuir-lhe um valor e ser reembolsada como os outros medicamentos.

Do que é que estamos à espera? Que pensam os partidos? As eleições deveriam discutir a urgência de educar e legislar sobre a alimentação para salvar vidas, melhorar a sua qualidade e poupar milhões de euros. É preciso interrogarmo-nos sobre a agenda e a prática política no que diz respeito à promoção da saúde e à prevenção das doenças. Basta de gastarmos mais no último mês de vida do que em toda a vida anterior.

Director do Programa Nacional para a Diabetes

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