O “carro do povo” a enganar o povo

“Cometer traição” é o primeiro sentido que o dicionário atribui ao verbo “falsear”. Seguem-se outros, como “ser falso para com alguém”, “atraiçoar”, “enganar”, “iludir”. Há até registado um exemplo que serve na perfeição para ilustrar o que se passou por estes dias com a fraude da Volkswagen (em português, “carro do povo”). É ele: “Falsear uma informação.”

A história: a empresa alemã criou, nos EUA, um esquema fraudulento que consiste em instalar um software em carros a gasóleo que faz com que estes emitam menos gases poluentes quando são sujeitos a testes. E assim enganou o povo. “Fizemos asneira”, disse o director-geral da Volkswagen América. Melhor seria ter dito “fomos desonestos”.

Em português, “asneira” tem um sentido demasiado suave para o que se passou, já que se explica como “um acto ou dito errado ou imprudente” ou tão-só “um disparate”. Admitimos, no entanto, que em alemão possa ter um significado mais próximo da gravidade da atitude dos empresários (e estarmos nós “lost in translation”).

Mais definições de “falsear”: “deturpar ideias”, “tornar falso”. Outros sinónimos: “desvirtuar”, “falsificar”, “adulterar”. Foi esta a atitude condenável da criadora do mítico “Carocha”. Condenável para quem a palavra “valores” vai além da que se converte em moeda.

O dicionário oferece-nos ainda uma inesperada explicação: “Colocar mal a extremidade dos membros, pisando em falso. ‘Falseou o pé e caiu’.” Na credibilidade e na bolsa de valores...

 

 

 

 

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