A partir de uma apertada sala de estar num apartamento da Baixa de Havana, Niurka Mola invoca os espíritos dos antepassados em busca de conselhos. À sua volta sente-se um odor a incenso e tabaco. Na sala há um altar, encimado por bonecas e outras figuras. Os seguidores respondem como que enfeitiçados à chegada dos espíritos. Um homem inicia um breve ataque de convulsões. As rezas misturam o espanhol com o iorubá e terminam com um “Pai Nosso”. Mola é uma “madrinha” de Santeria - uma religião sincrética com raízes na mitologia africana de iorubá e marcas do catolicismo - mas é também professora. E católica. Todos os meses vai, pelo menos, duas vezes à missa. Pertence aos quase 60% dos cubanos que, segundo alguns especialistas, praticam Santeria ou outra religião afro-cubana, num país onde mais de metade da população é baptizada na Igreja Católica. Muitos dos cubanos identificam-se com ambas as crenças e cerimónias. Este fim-de-semana, o Papa Francisco faz a sua primeira visita a Cuba e muitos destes fiéis gostariam que este reconhecesse formalmente o papel da Santeria nas vidas espirituais dos cubanos. “O Catolicismo está presente em todas as manifestações da Santeria”, defende Mola. “No final, o objectivo é o mesmo: aproximar-nos de Deus”. Uma opinião com a qual o padre Gilbert Walker, norte-americano a trabalhar em Cuba há 12 anos, não consegue concordar. “Para eles não é uma contradição, mas para nós é. Usam símbolos cristãos mas vazios de conteúdo”, afirma. O padre, natural do Mississippi, sabe que metade dos fiéis que vão à sua igreja praticam Santeria - ele próprio já encontrou pelo seu caminho pombos decapitados, merengues e cocos e outras oferendas a orixás santeros. O Papa Francisco vai estar em Cuba de 19 a 22 de Setembro.