Novo primeiro-ministro australiano diz que país não pode ser "à prova de futuro"
Actual primeiro-ministro perdeu liderança do partido e do país. Malcolm Turnbull, seu velho rival, quer reaproximar Governo da opinião pública com uma liderança mais progressista.
Tony Abbott foi afastado da liderança do Partido Liberal australiano e, por consequência, do cargo de primeiro-ministro, ao sido derrotado pelo rival Malcolm Turnbull numa eleição interna realizada nesta segunda-feira. Esta é a quarta vez que a chefia de Governo muda de mãos na Austrália em dois anos.
Foi durante a manhã que Turnbull atirou a toalha para o ringue, ao anunciar que iria demitir-se do cargo de ministro das Comunicações para desafiar a liderança de Abbott, a quem acusou de ser incapaz de dar ao executivo a energia necessária para mudar a actual política e colocar os liberais de novo à frente dos trabalhistas nas sondagens. “Se continuarmos com Abott a primeiro-ministro, é evidente o que acontecerá. Ele deixará de ser primeiro-ministro e será sucedido por Shorten”, disse Turnbull, referindo-se ao líder do partido trabalhista, Bill Shorten.
Abbott ainda resistiu, apelando aos colegas que não cometessem os mesmos erros do Labor – que defenestrou dois chefes de governo em apenas três anos –, mas acabou vencido na votação realizada já noite dentro pelos deputados liberais. Turnbull venceu a votação, por 54 votos contra 44, e promete um novo estilo de liderança “respeitador e isento de slogans”.
O golpe palaciano é uma repetição da novela que abalou o Labor desde 2010, ano em que o então primeiro-ministro Kevin Rudd foi afastado pela rival Julia Gillard. Rudd respondeu na mesma moeda, em Junho de 2013, a meses de novas legislativas, destronou Gillard, acabando por perder as eleições para Abbott. O remake de 2015 é ainda mais idêntico porque Turnbull já tinha liderado o Partido Liberal entre 2008 e 2009, altura em que perdeu as eleições internas para Abbott por apenas um voto
Espera-se do novo primeiro-ministro uma abordagem menos conservadora do que a de Abott em temas como o acolhimento de imigrantes e refugiados, combate às alterações climáticas e legalização do casamento entre pessoas do mesmo sexo. Todas áreas nas quais o actual Governo se foi gradualmente distanciando da opinião pública australiana. Sobretudo na resposta à recente vaga de imigrantes e refugiados que partem em barcos do Sul e Sudeste Asiático – em Junho, o executivo de Abott esteve sob fogo por ter alegadamente dado dinheiro a um traficante da Indonésia para que este fizesse regressar a sua embarcação em vez de entrar na Austrália.
Abott acabou por ceder à pressão internacional e nacional e anunciou há uma semana que aceitaria mais 12 mil refugiados sírios para além da quota anual de cerca de 13 mil pedidos de asilo na Austrália. Isto apesar de o seu Governo ter defendido prioridade para sírios cristãos e sem que Abott acedesse a dar entrada aos barcos de rohingya vindos do Bangladesh, Indonésia e Birmânia.
Liberal à esquerda
“Não podemos ser defensivos”, disse Turnbull aos jornalistas, já depois da vitória. “Não podemos ser à prova de futuro”, acrescentou, com Julie Bishop ao seu lado, que continuará como vice-líder do partido e ministra dos Negócios Estrangeiros.
Antes advogado e empresário, o novo primeiro-ministro australiano estudou direito em Sidney e, mais tarde, em Oxford. Ficou célebre quando, no final da década de 80, anulou as tentativas do Reino Unido de proibir a publicação do livro de um antigo espião britânico, Peter Wright.
Defende um “Governo Liberal de compromisso com a liberdade, o indivíduo e o mercado”, mas é mais conhecido pelas suas propostas progressistas, como a luta contra o aquecimento global e a legalização do casamento homossexual. Estas são as mesmas bandeiras que o fazem um elemento relativamente divisivo num partido que caminhou para a direita sob o governo de Tony Abott e que está agora fracturado por lutas internas.