Fugir da guerra não é (simplesmente) emigrar

“Pessoa que, na sequência de perturbações políticas ou de conflitos bélicos, teve de abandonar o seu local de residência habitual ou o seu país, procurando acolhimento noutra região ou noutro país”, assim se define a palavra “refugiado”, que tardou a entrar nas notícias sobre “migrações” para a Europa. 
 

Depois do cemitério em que o Mediterrâneo se transformou (“o naufrágio da humanidade”), do horror de pessoas asfixiadas num porão e num camião abandonado, as atenções viraram-se também para a estação ferroviária de Keleti, em Budapeste, e para o desespero de quem, vindo sobretudo da Síria, quer partir rumo à Alemanha, à Áustria e ao sonho de viver em paz.
 

Já um “migrante” define-se apenas como “o que muda de país ou de região”. Um “emigrante”, segundo o dicionário, é uma “pessoa que vai procurar trabalho ou outro modo de vida num país diferente daquele onde nasceu”.
 

O Alto-Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados já tinha alertado para as “consequências graves” de se falar de forma indiscriminada sobre “migrantes” e “refugiados”. Sobre estes últimos, disse o porta-voz, Adrien Edwards: “São pessoas que fogem de perseguições ou de conflitos armados” e, para elas, “a recusa de asilo tem, potencialmente, consequências fatais”. Explicou que os países “lidam com os migrantes de acordo com a sua lei interna e com os refugiados segundo a legislação nacional e internacional”, lembrou que “a Convenção dos Refugiados de 1951 define quem é refugiado e delimita os direitos básicos que os Estados lhe devem garantir”. E sublinhou: “As palavras importam.” Mas isso o leitor sabe, ou não estaria aí desse lado a ler-nos.

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