Importância do conhecimento para uma decisão informada no Mieloma Múltiplo

O MM, por ser uma doença pouco frequente, raramente é encontrada ao nível dos cuidados de saúde primários.

O Mieloma Múltiplo (MM) é uma doença maligna rara que afeta os plasmócitos (células sanguíneas), encontradas na medula óssea, local de produção dos constituintes do sangue.

Em condições normais, os plasmócitos representam uma pequena percentagem (menos de 5%) de todos os constituintes da medula óssea. No MM, os plasmócitos aumentam em número, de forma descontrolada, sendo responsáveis pela produção de inúmeras proteínas malignas, em vez de produzirem anticorpos benéficos para o combate de infeções. Muitas vezes, esta doença é detetada através dos elevados valores apresentados pelas proteínas anómalas.

Este tipo de doença maligna representa cerca de 1% de todos os tipos de cancro e aproximadamente cerca de 10% de todas as doenças malignas hematológicas (doenças que afetam as células do sangue). O MM ocorre mais frequentemente entre os 50 e os 70 anos, com um pico de incidência entre os 60 e os 65 anos. Apenas em 3% dos casos o doente apresenta uma idade inferior a 40 anos. O sexo masculino é o mais afetado, embora a diferença não seja muito significativa.

As causas para o aparecimento do MM ainda não foram estabelecidas, sendo que se acredita que existem alguns fatores que tornam o doente mais suscetível para o aparecimento deste tipo de doença, nomeadamente fatores genéticos e agentes ambientais.

Os sintomas mais comuns associados a este tipo de cancro são: dor óssea intensa e/ou prolongada, fraturas ósseas, anemia (baixa concentração de glóbulos vermelhos no sangue), trombocitopenia (baixa concentração de plaquetas no sangue), hemorragias, infeções repetidas, insuficiência renal e fadiga.

O tratamento do MM deve ser decidido em equipa multidisciplinar e depende de diversos fatores, nomeadamente da evolução da doença e estado geral do doente. Para que a melhor terapêutica seja escolhida, é importante que todas as dúvidas dos doentes sejam esclarecidas, relativamente aos procedimentos envolvidos em cada opção de tratamento, assim como os seus efeitos secundários. 

Até aos dias de hoje, ainda não existe cura para este tipo de doença maligna, isto é, não existe um tratamento que consiga fazer desaparecer o Mieloma Múltiplo para sempre. Mas existem diversas terapêuticas que permitem controlar este tipo de cancro, através da sua regressão e consequente estabilização da doença. Entre essas terapêuticas encontram-se: a quimioterapia oral, a radioterapia para o alívio da dor óssea localizada e auto-transplante de medula óssea.

Num período relativamente curto, muitas decisões terão que ser tomadas relativamente a que tipo de opção terapêutica adotar. Enquanto alguns doentes poderão optar por um tratamento mais agressivo, para combater o seu MM, outros irão preferir um tratamento menos agressivo mas que poderá proporcionar uma melhor qualidade de vida. Desta forma, é crucial que os cuidados de saúde, oferecidos aos doentes com MM, sejam adaptados a cada doente de acordo com as suas necessidades individuais.

A comunicação entre o médico e o doente deve ser eficaz, para que sejam estabelecidos objetivos realistas e a curto-prazo e, que possam ser constantemente reavaliados e ajustados. Uma das primeiras necessidades do doente consiste na obtenção de informação referente à sua doença. Esta informação deve ser simples, adequada a cada situação e/ou estado da doença e disponibilizada no momento certo. Cada vez mais, os doentes devem tornar-se mais proactivos, para desenvolverem a confiança e o conhecimento necessário à procura de uma segunda opinião ou para terem conhecimento da existência de centros de tratamento especializados. O MM por ser uma doença pouco frequente, raramente é encontrada ao nível dos cuidados de saúde primários e, desta forma, é deveras importante que os doentes tenham conhecimento de toda a informação disponível e de todas as organizações que tem como missão o apoio a esses mesmos doentes. Desta forma, os doentes com Mieloma Múltiplo conseguem tornar-se numa parte ativa na gestão da própria doença.

Uma participação activa e informada de todos os que têm um papel nas áreas da saúde e investigação, que contribua para o aumento do conhecimento do MM, do seu diagnóstico e do seu tratamento, com o intuito de melhorar a vida dos doentes, através de estratégias e tecnologias inovadoras que permitam uma intervenção mais eficaz, integral e com resultados para as pessoas com MM, pode conduzir a uma mudança positiva e efectiva do paradigma e das respostas em saúde. 

Isabel Leal Barbosa, Associação Portuguesa de Leucemias e Linfomas

Sofia Sá Cardoso, Associação Portuguesa Contra a Leucemia

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