Rocha em branco

A neutralidade de Longe dos Homens pode permitir ao espectador projectar nessa “tela em branco” os filmes que podia ter sido – westerns, por exemplo.

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Viggo Mortensen no deserto argelino, nos anos 50: é um professor numa remota aldeia e tem de escoltar um prisioneiro.

É um filme a dois, com as turbulências entre colonos e colonizados em pano de fundo – uma adaptação de O Hóspede, conto de Albert Camus. Longe dos Homens desenrola pacientemente a sua reafirmação da convenção. Isso confere-lhe uma aridez que rima de forma sugestiva com a paisagem rochosa, como se tudo fosse de propósito – e há até algo em Mortensen, a sua impassibilidade, a sua opacidade, por exemplo, que faz parte desse quadro.

Na verdade, a neutralidade formal de Longe dos Homens pode permitir ao espectador projectar nessa “tela em branco” os filmes que não estão lá, os filmes que este podia ter sido e que nunca consegue ser – como, por exemplo, um western. Isso não lhe confere autonomia, porque está afinal a ser “feito” fundamentalmente com a imaginação e a projecção do espectador, mas faz dele um dócil “hospedeiro”.  

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