Belicismo nuclear e financeiro

Plural de “acordo”, que quer dizer “entendimento recíproco”. Dois “acordos” mereceram a atenção do mundo por estes dias. Um Irão sem armas nucleares e uma União Europeia sem expulsões (da zona euro). O Irão está satisfeito, a UE (ou seja, a Alemanha), não.

Parece piada o registo de um dicionário enciclopédico para o vocábulo “acordo”, ao traduzi-lo por “concórdia”, “harmonia”. A explicação de uma enciclopédia geográfica também faz sorrir (cinicamente): “Se os continentes têm especialidades, as da Europa parecem ser os sistemas políticos e económicos. A noção de democracia nasceu na Europa.”

Na quinta-feira, quando a Revista 2 entra na gráfica, o que se sabia sobre estes dois “entendimentos” era que “o acordo de controlo nuclear agradou a quase todos, sendo Israel e o Partido Republicano norte-americano duas das excepções”; já quanto ao acordo com a Grécia, era esta a notícia: “Um empréstimo de emergência aos bancos gregos irá ser reforçado em 900 milhões de euros ao longo de uma semana, criando a expectativa de que as instituições financeiras possam voltar a abrir brevemente.” Uns estão aliviados, outros preocupados e quase todos zangados. “Imposição” e “humilhação” foram palavras pronunciadas e escritas por aqueles que em tempos acreditaram num projecto comunitário que seria “a casa da democracia”.

Juntando as duas “aprovações”, poder-se-ia recuperar o slogan de outros tempos, agora não sobre armas nucleares, mas sobre belicismo financeiro. “Acordo? Não, obrigado.” Ou adaptar a canção de Lena d’Água, sem preocupações de métrica ou rima: “Antes combativo hoje do que submisso amanhã.”

Como escreveu José Vítor Malheiros, “a União Europeia passou de ‘clube das democracias’ a uma ditadura financeira”. Não, obrigado. 

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