Jovens e não revolucionários

Estreia promissora de um jovem realizador mexicano

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Sob a influência da Nouvelle Vague, um retrato da juventude mexicana onde há vida dentro, e não apenas fórmula

“Ser jovem e não ser revolucionário é uma contradição”, lê-se às tantas num placard, mas Güeros, a estreia do mexicano Alonso Ruizpalacios, concentra-se precisamente num grupo de jovens que são muito pouco revolucionários no modo como vagueiam pela Cidade do México ignorando alegremente os protestos estudantis que fervilham na capital (ocorridos realmente em 1999).

Se a referência evidente do filme é a urgência libertária de uma certa Nouvelle Vague (imagem a preto e branco em formato “quadrado”, câmara muitas vezes à mão, uma narrativa solta e referencial), a verdade é que há mais qualquer coisa a trabalhar em Güeros. A aparente anarquia narrativa do filme é um espelho da própria confusão que vai na cabeça de Tomas, o adolescente-problema, do irmão mais velho Sombra, e do seu companheiro de quarto Santos, que passam dois dias em busca de um músico mítico que tem funcionado como substituto-metáfora da figura paternal.

Mas é precisamente isso, combinado com o humor seco e semi-absurdista que pontua o filme, que torna Güeros num filme muito mais interessante do que a maioria das estreias “de autor” recentes que temos visto: para lá das referências, há uma sensação de vida, de energia, de emoção que não se explica de modo “certinho” e que passa muito melhor através deste aglomerado de episódios que acabam por fazer perfeito sentido juntos. Tem defeitos de primeiro filme, mas é uma estreia promissora.

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