Rui Moreira critica centralismo de Lisboa e exorta Porto a não se vergar

Independente está em guerra com Governo e Comissão de Coordenação Regional por causa dos fundos comunitários. Aproveitou cerimónia de entrega de medalhas da cidade para mandar recados.

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O presidente da Câmara do Porto, Rui Moreira, disse esta quinta-feira que é tempo de a “cidade estar unida nas suas missões e desígnios”. Numa altura em que a Câmara do Porto e os outros municípios da Área Metropolitana do Porto estão em guerra com o Governo e a Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Norte por causa dos fundos comunitários que lhes foram disponibilizados, Rui Moreira avisou: “Entre o centralismo que diariamente inventa novos caminhos ínvios ou becos sem saída a partir de gabinetes aveludados e corporações, e o paternalismo dos que menosprezam a cidade e não entendem o desejo, há um Porto resiliente, empreendedor, capaz e sonhador”.

O autarca independente falava no encerramento da sessão solene de imposição de medalhas da cidade a 27 personalidades e instituições, que decorreu nos jardins da Casa do Roseiral, no Palácio de Cristal. “Há um Porto que tem brio, orgulho, nobreza e vontade. Há um Porto que não se verga ao destino de sucumbir aos directórios. Esse Porto manifesta-se de muitas de muitas e, por vezes, misteriosas formas”, declarou.

E desfiou um conjunto de exemplos. “Vejo-o quando a Avenida dos Aliados se enche para cantar com os seus artistas. Vejo-o quando no Bairro do Cerco se juntam jovens e, numa garagem, inventam novas melodias que se estendem até ao Rivoli. Vejo-o nas Fontainhas, no São João. Vejo-o na vontade férrea de se renovar e renascer, no Bolhão que quer ressurgir, no Palácio de Cristal agora desafiado a uma nova vida, em Campanhã, no Matadouro que agora sonha outro destino fundamental”, referiu
Falando para uma vasta plateia, o presidente trouxe para o seu discurso uma questão que é cara a Miguel Veiga, um advogado da cidade que a Câmara do Porto agraciou agora com a Medalha de Honra da Cidade - Grau Ouro, e que tem a ver com a natureza do portuense que “sempre preferiu ao tédio dos consensos as virtudes dos dissensos”. “Nesta cidade, nada nos é indiferente, tudo se discute e tudo se debate”, salientou.

D. Manuel Martins, bispo emérito de Setúbal, e o Instituto Politécnico do Porto foram também agraciados com a mesma distinção. O presidente da Câmara do Porto referiu-se aos três homenageados com a Medalha de Honra da Cidade, mas também ao conjunto dos cidadãos e instituições que, pelo seu mérito, recebem outras distinções, como “nossos guias”. “São referências da sociedade civil, da Igreja, do associativismo, das artes e das letras, do desporto e do trabalho. São exemplos. E muitos andamos precisados de exemplos nestes tempos instáveis que colectivamente atravessamos”, afirmou.

O presidente da câmara não se esqueceu daqueles que disseram que a lista dos homenageados era grande. E para esses a resposta que deixou foi: “Ainda bem que são muitos, é sinal que a cidade bem reconhece entre os seus estas referências de cidadania, que nunca serão em excesso ou demasia”.

E de novo citou Miguel Veiga para dizer que “a verdadeira pátria dos homens é o desejo”. “E, se é da conquista que nasce a pátria, é também na conquista que se inspiram e concretizam o desejo e o carácter”, disse, elogiando o carácter individual de mulheres e homens como os que a cidade homenageia.

E foi a este propósito que defendeu que este é o tempo de a “cidade estar unida nas suas missões e desígnios”. “Sem trincheiras, mas sempre determinada a unir-se pelas suas causas, contra qualquer cerco que seja. Porque os piores cercos, nestes anos de chumbo, não são sequer os físicos, são os cercos imateriais”.

Antes de voltar a atacar o centralismo de Lisboa, o presidente da Câmara do Porto aludiu ao “saber e querer resistir da cidade”, que considerou ser “um dos traços mais identificadores dos que nesta cidade ou a propósito dela fazem história”. E terminou com uma mensagem de esperança: “Vamos ter dias melhores, vamos lutar por isso, por esse desejo para a nossa cidade e, portanto, para os portuenses. Por nós”.

Para além das medalhas de honra da cidade - Grau Ouro, o município agraciou personalidades e instituições com a Medalha Municipal de Mérito - Grau Ouro, Medalha Municipal de Bons serviços- Grau Prata e Medalha Municipal de Valor desportivo - Grau Ouro.
Adélio Miguel Mendes, professor universitário, Júlio Machado Vaz, médico e especialista na área da sexualidade, Amélia Cupertino de Miranda, presidente da Fundação Cupertino de Miranda, Madalena Sá e Costa, violoncelista, Balleteatro, João de Sousa, director artístico da Companhia de Teatro Pé de Vento, Clube de Judo do Porto, Secção de Andebol do FC Porto foram algumas das figuras e instituições da cidade agraciadas.

Algumas das distinções foram atribuídas a título póstumo, como aconteceu no caso de Isabel Alves Costa, que foi programadora cultural do Teatro Municipal Rivoli.

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