Epidemia de ébola acabou na Libéria

É o primeiro país da África Ocidental a preencher os critérios para declarar terminada a emergência. O desafio agora é manter a vigilância e construir um sistema de saúde.

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A campanha para modificar comportamentos na Libéria foi importante ZOOM DOSSO/AFP

O fim da epidemia foi declarado porque se passaram 42 dias – o dobro do período máximo de incubação do vírus – sem que tenha surgido nenhum novo caso confirmado por testes laboratoriais. O último foi o de Ruth Tugbah, de 44 anos, que morreu a 28 de Março. Provavelmente foi contaminada ao ter relações sexuais com o marido, um sobrevivente do ébola. Descobriu-se entretanto que o vírus consegue subsistir em alguns órgãos das pessoas que sobrevivem à infecção. Foi identificado no esperma de sobreviventes e até num dos olhos de um médico norte-americano que contraiu o vírus ao trabalhar para a OMS na Serra Leoa.

Para a Libéria, onde morreram 4700 pessoas, entre os cerca de 10.500 casos registados, de acordo com o mais recente balanço divulgado pela OMS, ver-se livre do vírus do ébola é uma grande vitória. “É um feito monumental”, afirmou Alex Gasasira, um responsável da organização, numa cerimónia realizada em Monróvia, na sede da célula de crise anti-ébola, na  presença da Presidente liberiana, Ellen Johnson Sirleaf.

A Presidente homenageou todos os seus compatriotas que ultrapassaram meses de pesadelo, e em especial os profissionais de saúde – dos 375 contaminados pelo vírus na Libéria, 189 morreram. A ajuda dos Estados Unidos, que montaram hospitais de campanha, e ajudaram na elaboração de campanhas para modificar o comportamento dos liberianos, foi fundamental para controlar a epidemia.

Doentes em centros de tratamento a rebentar pelas costuras; dezenas e dezenas de cadáveres incinerados de cada vez; regiões inteiras encerradas, de quarentena, que por vezes degenerava em violência; famílias fechadas em casa, sem alimentos nem água – como aconteceu em Agosto de 2015 em Ballajah, perto da fronteira com a Serra Leoa, recorda a AFP – tudo isso terá ficado para trás.

Mas não se pode baixar a guarda, avisa a organização Médicos Sem Fronteiras (MSF), que esteve desde o início na luta contra o surto, primeiro e depois epidemia, na África Ocidental – que fez cerca de 11 mil mortos, em 26.600 casos registados desde Dezembro de 2013. “É preciso melhorar a vigilância transfronteiriça para impedir que o ébola regresse ao território da Libéria”, diz, em comunicado.

A vigilância também não pode diminuir: “A comunidade internacional deve apoiar a Libéria – bem como a Guiné-Conacri e a Serra Leoa – na reconstrução de um sistema nacional de saúde sólido e com recursos humanos e materiais adequados”, afirmou ainda a chefe de missão desta organização humanitária francesa em Monróvia, Mariateresa Cacciapuoti, citada no comunicado.

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