Escutas telefónicas mantêm viva investigação a Nicolas Sarkozy

Tribunal de Recursos de Paris validou gravações entre o ex-Presidente da França e o seu advogado, que poderão ser usadas como prova num futuro processo por corrupção e tráfico de influência.

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Nicolas Sarkozy rejeita as acusações e apresenta novo recurso Foto: Yves Herman/Reuters

A Justiça francesa validou as escutas telefónicas em que o ex-Presidente da República e actual líder da coligação de centro-direita UMP, Nicolas Sarkozy, foi apanhado a discutir com o seu advogado Thierry Herzog uma estratégia para obter informação confidencial relativa a um processo judicial em que estava envolvido. A ideia avançada por Sarkozy nessas conversas gravadas em segredo passava pela promoção de um alto magistrado, Gilbert Azibert, a uma “prateleira dourada” no Mónaco alegadamente em troca das informações pretendidas.

A validação das escutas telefónicas, que remontam a 2013, por um tribunal de recursos de Paris, mantém viva a investigação contra Nicolas Sarkozy, que é suspeito dos crimes de corrupção, tráfico de influência e violação de segredo de justiça pela sua alegada tentativa de suborno de um juiz – se for formalmente acusado, enfrentará penas que vão entre cinco e dez anos de prisão e multas até 500 mil euros.

As informações que Nicolas Sarkozy supostamente buscava obter junto de Gilbert Azibert diziam respeito a um processo de corrupção e financiamento ilegal da sua campanha presidencial, que ficou conhecido como o “affaire” (ou escândalo) Bettencourt. No centro desse caso estava a herdeira do império cosmético L’Oreal, Liliane Bettencourt, que terá pago elevados montantes à campanha de Sarkozy, em dinheiro entregue em mão a um intermediário e não declarado às autoridades eleitorais. O processo nunca chegou a tribunal por falta de provas.

A defesa do antigo Presidente já fez saber que tenciona apresentar um segundo recurso, alegando novamente que as escutas são nulas e ilegais, uma vez que violam a confidencialidade entre o advogado e o seu cliente e não foram autorizadas por um juiz – o pedido que as justificou teve com uma suspeita de donativos ilegais do ditador líbio, Muammar Khadafi, pelo que a informação recolhida só poderia ser usada nesse caso. Ambos os argumentos foram rejeitados pelo tribunal de Paris e serão agora avaliados pelo Supremo tribunal de Cassação, a mais alta instância de recurso do sistema judiciário francês.

A UMP denunciou a investigação e acusou o Governo socialista de “espionagem política”. Segundo o próprio Sarkozy, as autoridades francesas recorreram a métodos próprios da Stasi, a antiga polícia política da Alemanha de Leste, numa “tentativa deliberada de humilhação pública”.

O processo vem comprometer seriamente as pretensões políticas de Sarkozy, que segundo a imprensa francesa estaria a preparar-se para converter a sua União para um Movimento Popular ou UMP num novo partido chamado Os Republicanos no fim deste mês, e para correr por um novo mandato presidencial nas eleições de 2017.

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