Viva Simon Raven!

Como é que descobrimos recomendações literárias em que acreditamos, pelos caminhos mais imprevisíveis?

Como é que descobrimos recomendações literárias em que acreditamos, pelos caminhos mais imprevisíveis?

Estava a ler o implacavelmente honesto e trágico What to Look for in Winter: A Memoir in Blindness, de Candia McWilliam (C.W.), de 2010. Fiquei a saber que o pai dela, um aristocrata socialista, gostava da série Alms for Oblivion, de Simon Raven, por ser uma sátira certeira da classe média-alta inglesa.

C.W. é uma escritora escocesa da classe média-alta que gosta muito da Rainha Isabel II. Não poderia estar mais fora de moda. Mas escreve tão bem — e tão pouco e bebe tanto que é perdoada (e é, infelizmente, esquecida) por todos.

C.W. ficou cega, gorda, feia e velha. Mas escreve com a inteligência e a elegância de quem lê há dois mil anos.

Li os três romances descontínuos de Simon Raven que pude descarregar imediatamente e sacrifiquei-me a esperar pelos outros todos que encomendei.

Digo já que Simon Raven é muito bom. É tão bom que é melhor (mais engraçado, rápido e directo) do que Anthony Powell.

Li a dúzia de livros de Powell (que rima, à moda galesa, com o modo americano do poeta Lowell) que constituem A Dance to the Music of Time. São bons e divertem. Mas sofrem de uma prisão de ventre que obriga os personagens a serem divertidamente sérios.

Simon Raven é saudavelmente pagão, imoral e frívolo. Escreve com o treino de um classicista. O prazer, o egoísmo e (involuntariamente) a decência e a honestidade gozam sempre da mesma, justa e saborosa primazia.

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