Aplicação para telemóvel permite registar dados sobre lixo recolhido na praia

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O antigo Hotel Neptuno, agora Yellow Hotel, foi construído junto à praia de Monte Gordo, no Algarve Pedro Cunha/Arquivo

Uma aplicação para telemóvel, destinada aos grupos que recolhem resíduos nas praias, permite o registo de informações sobre o material encontrado, de modo a conhecer melhor a situação do lixo marinho em vários países europeus, como Portugal.

O Marine LitterWatch é um projecto desenvolvido pela Agência Europeia do Ambiente (EEA na sigla em inglês) utilizando uma aplicação para telemóvel e o principal objectivo é a adopção de "uma metodologia uniforme para a quantificação de lixo marinho nas praias europeias", explica Isabel Palma Raposo, da Associação Portuguesa de Lixo Marinho (APLM).

Esta organização, ligada à Faculdade de Ciência e Tecnologia (FCT) da Universidade Nova de Lisboa, é a parceira portuguesa para o Marine LitterWatch e está a promover a utilização deste instrumento entre as Organizações Não Governamentais (ONG) e os grupos de cidadãos que vão realizando acções de limpeza de praias e da costa.

A informação recolhida, e tratada de forma semelhante, vai facilitar o conhecimento do que se passa nas praias europeias em termos de poluição da costa, quantidades encontradas e materiais mais frequentes, como plástico, garrafas, beatas de cigarros ou cotonetes, comparar a situação entre pontos diferentes de um país e entre países, além de permitir analisar a evolução, nos próximos anos.

"Qualquer pessoa pode utilizar a aplicação", salientou a investigadora da FCT, avançando o exemplo de uma ONG que planeou uma limpeza de praia, e pode fazer uma recolha de dados, com o registo da acção, caracterização e localização da praia e data.

A ferramenta gera um código que vai ser fornecido aos participantes da acção e o próprio instrumento apresenta uma lista de tipos mais comuns de lixo nas praias.

À medida que vão encontrando os resíduos, "os participantes podem ir registando de forma simples os itens que apanharam", especificando qual o tipo de material, explicou a investigadora.

A aplicação também pode ser utilizada pelos técnicos de organizações internacionais, como a comissão para a protecção do ambiente marinho no Atlântico Noroeste (OSPAR), com a sua metodologia para a monitorização.

A grande vantagem realçada por Isabel Lima Raposo é que todos os dados são recolhidos com uma mesma metodologia e ficam centralizados. "Ao classificar sempre da mesma maneira o lixo que é apanhado, conseguimos comparar resultados no futuro, o que por vezes não é fácil porque existem muitas metodologias diferentes de classificar o lixo", o que dificulta a comparação de resultados ou a elaboração de tendências, disse.

A aplicação, baseada nas recomendações da OSPAR e tendo em conta os requisitos da directiva comunitária da estratégia marinha, está só disponível em inglês e a APLM gostaria que fosse traduzida para português porque "é mais fácil para as pessoas se estiver na língua nativa".

O projecto Poizon "Microplásticos e poluentes persistentes: uma dupla ameaça à vida no mar", que analisou o lixo marinho encontrado em 11 praias portuguesas durante dois anos, concluiu que o plástico, principalmente de muito pequenas dimensões, representa 97% de todo o material encontrado.

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