Maria Barroso: mais do que uma artista

No dia em que festeja longos e sempre activos anos, sabe bem saudar aquela que tão cedo foi um pouco a musa juvenil da nossa geração.

Dos meus dias de Coimbra guardo um momento de rara emoção e surpresa. Emoção minha e de uma parte da nossa geração que acorrera ao Teatro Avenida para ouvir, festejar, partilhar a juvenil exaltação de uma heroína da Casa de Bernarda Alba que nos visitava. Muita água passou sob as pontes do Mondego e do mundo. E um pouco de esperança e de rebeldia que essa jovem e ardente artista então incarnava.

Chamava-se, chama-se, Maria Barroso, futura Benilde recriada a meias nas palavras de Régio e nas imagens de Manoel de Oliveira, mais tarde figura singular ao mesmo tempo nos palcos do nosso teatro como nos da vida pública numa época em que a natural respiração da liberdade tinha um preço sem preço. Como todos sabemos a sua precoce militância, cultural e cívica, não foi uma aventura solitária. Teve companhia. Entre ela e, acima de todos, a do então jovem líder da oposição portuguesa de quem o futuro fará o primeiro presidente civil da Democracia restaurada, Mário Soares.

Era de esperar que os novos tempos lhe exigissem e lhe impusessem novos deveres. Acima de tudo o de se empenhar, com o seu fervor de sempre, em causas necessárias e urgentes ao serviço do novo Estado social que tanto tínhamos almejado. A sua acção ao serviço da “Caritas” mobilizaria até hoje o melhor da sua energia e da sua paixão intacta por um futuro o mais justo e fraterno possível que foi o sonho da sua e nossa geração. No dia em que festeja longos e sempre activos anos, sabe bem saudar aquela que tão cedo foi um pouco a musa juvenil da nossa geração.

Ensaísta

Sugerir correcção
Ler 1 comentários