Patrões e sindicato alertam que construção não pode ser penalizada por ciclos eleitorais

Sindicato diz que sector perde 150 postos de trabalho todos os dias.

Foto
Associações patronais e sindicato reclamam mais atenção para o sector da construção.

As associações patronais e o sindicato do sector da construção alertaram esta quinta-feira para a "urgência na efectiva implementação" das medidas anunciadas pelo Governo para retoma da actividade, temendo que venham a ser abandonadas devido à proximidade das eleições legislativas.

"Este é um momento decisivo para o sector da construção, que tem verificado nos últimos tempos alguns sinais positivos de retoma em termos de insolvências, despedimentos e falências das empresas. Mas o sector está muito dependente do ciclo governativo e, estando nós quase em cima das eleições, tememos que aquilo que o Governo assumiu como fundamental para o sector não se venha a concretizar nos meses que temos antes deste ciclo eleitoral", afirmou o presidente da Associação dos Industriais da Construção Civil e Obras Públicas (AICCOPN).

Reis Campos falava aos jornalistas no final de uma reunião que hoje decorreu no Porto com a congénere Associação de Empresas de Construção, Obras Públicas e Serviços (AECOPS) e o Sindicato da Construção de Portugal para debater a situação do sector e "concertar posições em torno de objectivos que são comuns".

Salientando que "as soluções existem e foram já definidas e incorporadas na agenda governamental", o dirigente associativo alertou que se não forem rapidamente implementadas pode revelar-se "inconsequente e deixar de fazer qualquer sentido todo o esforço exigido ao sector ao longo destes últimos anos".

Em causa, salientou, estão questões como a dinamização da reabilitação urbana, a execução dos fundos comunitários do Quadro de Referência Estratégica Nacional (QREN) ainda disponíveis, a concretização do Plano Estratégico dos Transportes e Infra-estruturas assumido pelo Governo, a implementação do Programa Portugal 2020 e a resposta ao "repto corporizado pelo 'Plano Juncker'".

Também prioritárias são medidas para a captação de "mais investimento privado, nacional e estrangeiro", e questões legislativas ligadas aos alvarás, Código dos Contratos Públicos e lei dos vistos Gold, "que não sai".

"Tudo isto são motivos de preocupação para um sector que, se não forem tomadas medidas nestes próximos meses, poderá regredir para aquilo que foi um passado recente e catastrófico", sustentou Reis Campos.

É que, lembrou, o sector da construção, apesar de ter sido "o que mais emprego perdeu" nos últimos anos - desapareceram 37 mil empresas responsáveis por 260 mil postos de trabalho - "continua a ser o que mais gente emprega", representando 20% das empresas no país.

"[Isto] não tem nada a ver com política, é do foro da actividade económica de um sector que foi muito penalizado nos últimos cinco anos e que não queremos que regresse a este passado recente", sustentou, assegurando que patronato e sindicato tudo farão para que as medidas anunciadas "se concretizem".

Para o presidente do Sindicato da Construção, Albano Ribeiro, "o primeiro-ministro tem de ouvir o sector, que todos os dias está a perder 150 postos de trabalho", e, "tal como reabriu os túneis do Marão, tem que avançar com infra-estruturas importantíssimas".

É o caso, apontou, das obras Parque Escolar, cuja retoma "criaria 10 mil postos de trabalho", assim como da reabilitação urbana (que se traduziria em mais 65 mil postos de trabalho), do plano de barragens (seis mil postos de trabalho) e de obras de reabilitação "para conferir dignidade" às instalações da polícia, GNR e bombeiros.

"As obras têm que avançar porque não há país nenhum no mundo que, sem investir na indústria, tenha crescimento e desenvolvimento económico e riqueza. Se é preciso riqueza, então aposte-se neste sector que é muito importante", reclamou o dirigente sindical.

Na mesma linha, o presidente da AECOPS, Ricardo Gomes, assegurou que as estruturas representativas do sector da construção continuarão "a alertar" para este assunto até que "alguém, algum dia, perceba a importância" da actividade.

"Faremos tantos alertas até que alguém perceba que as coisas têm que acontecer", assegurou no final da reunião.

Sugerir correcção
Comentar